O quarto de Nicolau estava mergulhado em meia-luz, numa penumbra quase solene que parecia conspirar com o silêncio da casa. As cortinas pesadas filtravam a claridade prateada da noite, permitindo que apenas fiapos de luar se esgueirassem pelas frestas, como sussurros indesejados. O relógio antigo na parede, um herdeiro de gerações passadas, marcava cada segundo com um tique-taque implacável, como se fosse uma sentença inexorável. Não era apenas o tempo que ele contava, mas a própria fragilidade da vida, ecoando no ar denso, carregado do cheiro acre de medicamentos e aquele odor sutil de decadência que ninguém ousava nomear. A respiração de Nicolau era lenta, irregular, um ritmo entrecortado que preenchia o vazio como um lembrete constante de que o fim se aproximava.
Ian entrou devagar, os passos abafados pelo tapete oriental que cobria o assoalho de madeira polida. Ele não parecia o homem seguro e inabalável que todos conheciam; o CEO implacável, o herdeiro que comandava salas de reun