O sol já atravessava as cortinas do meu quarto quando acordei. Estava nua sob os lençóis bagunçados, o corpo ainda dolorido de prazer, e a presença de Dante era um calor ao meu lado que me fazia sorrir, mesmo de olhos fechados. A noite anterior ainda ardia em mim — cada toque, cada gemido, cada promessa não dita. Ele me teve de um jeito que nenhum homem jamais teve. Corpo, alma, coração. E eu… eu me entreguei inteira.Abri os olhos devagar, sentindo o aroma dele na fronha, no travesseiro, em mim. Dante estava no banheiro, e o som da água caindo no box era reconfortante. Pela primeira vez em muito tempo, eu me sentia segura.Ou pelo menos achava que estava.Me levantei e cheguei na porta do banheiro. Lá estava ele, lindo, musculoso, aquelas tatuagens que o faziam parecer uma obra de arte. Quando ele levantou a cabeça e olhou pra mim, minha respiração parou.— Está gostando do que vê?— Não é de se jogar fora. - Falei como quem não quer nada.— Então vem aqui que vou te mostrar o que nã
A boate Verona pulsava como um organismo vivo. Cada batida da música reverberava dentro do meu peito como se o lugar respirasse junto com a gente. Luzes vermelhas cruzavam o salão, refletindo nos espelhos, no suor dos corpos apertados na pista, nas taças erguidas e nas máscaras que todos usavam ali — inclusive eu.Mas, apesar de todo o caos ao meu redor, eu só conseguia prestar atenção na mão firme de Dante repousando na minha cintura. Seus dedos estavam ali como uma promessa muda. De proteção. De posse. De desejo.Desde que ele bateu na porta do meu apartamento e eu abri, com o coração disparado e os olhos marejados, era como se estivéssemos num daqueles filmes antigos. Onde o mocinho aparecia no último segundo e pedia perdão com os olhos. Só que Dante não era mocinho. E essa não era uma história comum.Mas eu disse sim mesmo assim.Disse sim com o corpo, com os beijos desesperados, com os gemidos abafados naquela madrugada em que nossos corpos se procuraram até o sol nascer. E agora
POV: Helena O sol da tarde estava baixo, pintando o campus da faculdade com tons alaranjados, mas tudo que eu sentia era um frio crescente no estômago. Minhas costas doíam, a cabeça latejava, e as palavras de Mel ainda me corroíam por dentro.A forma como ela se aproximou de mim na boate, os sussurros venenosos dizendo que Dante e ela eram feitos um para o outro… Aquilo grudou em mim como ferrugem. Mas eu não ia ceder. Não mais.Saí da aula determinada a focar no que importava: terminar as provas, cuidar do bebê e tentar, de alguma forma, sobreviver à tormenta que era amar um homem como Dante Bellini.Mas então eu vi.Encostado em um dos postes próximos ao estacionamento, com o blazer amarrotado e um olhar que oscilava entre culpa e obsessão, Arthur me esperava. O coração pulou no peito, um instinto antigo de alerta.Tentei ignorar. Tentei passar direto. Mas ele se adiantou.— Helena, espera — a voz dele soou urgente. — Eu só quero conversar.— Já conversamos o suficiente — rebati, a
A noite estava sufocante, mesmo com o ar-condicionado do salão de festas funcionando a todo vapor. Vestidos longos, joias reluzentes e sorrisos falsos se espalhavam pelo ambiente como perfume barato disfarçando podridão. Eu me sentia deslocada, mesmo com a maquiagem impecável e o vestido preto justo que minha mãe insistiu para que eu usasse. O leilão beneficente era organizado por um dos maiores nomes da cidade — um evento onde empresários lavavam reputações e políticos se faziam de santos. E, aparentemente, também era onde a máfia mostrava os dentes usando terno e gravata. — Mantenha a postura — minha mãe sussurrou entre os dentes, sorrindo para uma socialite do outro lado do salão. — Você está sendo observada. Eu já sabia disso. Desde que cheguei, senti o olhar dele. Um homem alto, de presença imponente, terno cinza escuro sob medida e um sorriso que não tocava os olhos. Ele me estudava como se eu fosse mais uma peça valiosa a ser leiloada naquela noite. Dante estava a poucos
O prédio da OAB estava lotado. Gente por todos os lados, nervos à flor da pele, canetas estalando entre dedos trêmulos, suspiros profundos. Eu respirei fundo antes de entrar na sala, a mão repousando instintivamente sobre minha barriga, ainda discreta, mas cada dia mais real. Era o nosso bebê. Meu e do Dante.Apesar do nervosismo natural da prova, meu coração estava em paz. Não tinha recebido mais nenhuma ameaça desde a carta. Dante estava mais presente do que nunca. Queria que eu me mudasse com ele, dizia que queria nossa família segura. E por mais que eu ainda estivesse tentando conciliar minha antiga vida com a nova, já não conseguia me imaginar sem ele.A prova foi cansativa, mas fluiu. Respondi questão por questão com precisão. Quando finalmente entreguei a folha e deixei a sala, senti o alívio escorrer pelos ombros como água morna. Era o fim de uma etapa.Saí do prédio e segui pela calçada, procurando meu celular na bolsa. Foi quando senti uma sombra se aproximar rápido demais.
POV: DanteEla disse que me ligaria depois da prova.Era o combinado. Eu até brinquei que queria ser o primeiro a ouvir ela gritar “fui muito bem”. Mas o tempo passou, e nada.Primeiro foi uma hora. Depois duas. Mandei mensagem. Esperei. Liguei. Caixa postal direto.A inquietação começou como um nó no estômago, apertando aos poucos, até virar uma dor afiada no peito. Helena não era do tipo que sumia. Ainda mais agora, com um bebê crescendo dentro dela.Saí da boate sem dizer nada a ninguém, direto pro carro. Liguei o motor com força e dirigi até a faculdade de Direito. O estacionamento estava quase vazio quando estacionei. Desci do carro como um animal em alerta, olhando em todas as direções.Foi quando vi uma moça recolhendo folhetos na entrada.— Com licença — chamei, a voz mais áspera do que queria. — Você viu uma loira, magra, de olhos claros, saindo da prova hoje? Helena Damasceno?Ela me olhou, hesitante.— A maioria saiu por volta das três… Por quê? Aconteceu alguma coisa?— To
HelenaO cativeiro tinha cheiro de mofo, e a luz fluorescente piscando no teto fazia o tempo parecer em câmera lenta. As cordas machucavam meus pulsos e o pano sujo em volta da boca impedia qualquer grito mais forte. A barriga começava a pesar. Não fisicamente. Psicologicamente.Eu estava com medo. Por mim. Pelo bebê.Mel caminhava de um lado pro outro, os saltos estalando no chão como chicotes. Ela murmurava palavras desconexas. Falava de amor, de destino, de como Dante e ela estavam ligados por algo que eu jamais entenderia.— Você não faz ideia do que é amar alguém tanto a ponto de destruir tudo — ela disse, ajoelhando-se na minha frente. — Eu tentei ser boazinha. Mas você apareceu e estragou tudo. Agora… agora ele vai ver.Arthur estava atrás dela, nervoso. Suado. O revólver trêmulo nas mãos.— Isso tá indo longe demais, Mel. Não era pra ser assim. Só queríamos que ela fosse embora. Só… só pra ela sumir da vida dele, entende?— Cala a boca, Arthur! — ela gritou. — Você queria ela!
POV: DanteO cheiro de sangue era algo que eu aprendi a ignorar ao longo dos anos. Mas o dela… o dela me dilacerava.Helena estava deitada na maca, pálida, frágil, com tubos saindo do nariz e agulhas cravadas nas veias como se estivessem tentando costurar a vida de volta nela. A bala tinha atingido seu abdômen, perto demais do bebê. Quase demais.Meu peito doía de um jeito que eu não sabia que era possível. Não de um jeito físico. Era como se meu coração tivesse sido arrancado e jogado ao chão, batendo contra o mármore frio da realidade.Arthur estava morto. E eu não me arrependia.Mel tinha fugido — a vadia covarde. Mas isso era problema pra depois. Agora, tudo que importava era ela.Helena.A mulher que eu deveria ter protegido desde o primeiro segundo. Que eu deveria ter tirado daquele inferno muito antes de tudo dar errado. Agora, ela lutava pra sobreviver… e era por minha causa.Eu afastei os médicos quando tentei entrar na sala de cirurgia, mas Léo me segurou pelos ombros. Pela