Saulo Prado
Ela me olhava como se eu tivesse dito um absurdo. Como se projetar um futuro, ainda que tímido, fosse uma ofensa.
Mas não era. Era só verdade.
Angelina sempre reagia assim quando o assunto saía do corpo e tocava o coração. Travava. Se recolhia. Procurava uma saída que a mantivesse segura. Mas eu já a conhecia o bastante pra saber que, por trás do olhar surpreso, tinha outra coisa fervendo ali dentro.
Medo.
Medo de acreditar.
- Tá com essa cara por quê? - perguntei, mantendo a cabeça pouco erguida olhando para ela sobre mim, as suas pernas entre as minhas, a minha mão vagando lenta pela sua coluna. - Você acha que eu tô aqui brincando?
Ela não respondeu. Só me olhava com seus olhos grandes, cheios de algo que nem ela mesma sabia nomear.
- Cê não entendeu ainda? Eu gosto de você, caralho. Gosto das suas manias, da sua risada torta, do seu cheiro que fica na minha camisa quando você usa, ou quando somente me abraça.
Ela desviou o olhar. Respirou fundo.
- Saulo...
- Não, olha