Saulo Prado
Eu já tinha percebido desde cedo que Francesca estava tramando alguma coisa.
Quando nos chamou para ver o "vazamento" do ar-condicionado que, segundo ela, estava mofando o forro da sala, já imaginei o roteiro: encenação, drama e um pretexto qualquer pra nos arrastar até o canto dela.
Escancarei a janela. - Olha, o ar entra do mesmo jeito.
Não era um problema pra mim.
Era só mais uma tentativa frustrada de se aproximar.
Ela sempre achava um jeito de estar presente, mesmo sem ser bem-vinda. Era isso que mais me irritava nela, a insistência disfarçada de coitadinha, de educação, o sorriso calculado, os gestos milimetricamente ensaiados.
A proposta de dividir a sala comigo foi prontamente descartada.
Eu preferia o aperto da sala menor, com a janela sempre aberta, do que o incômodo de respirar o mesmo ar que ela. Papel não ocupa espaço, e minha cabeça já tinha problema demais.
Quando tomou posse da sala que antes era da minha tia, percebi o riso de escárnio no canto da boca