Saulo Prado
Peguei a estrada cedo. Minha mãe ficou parada no meio da cozinha, me olhando como se esperasse uma explicação que eu não tinha. Só prometi voltar mais rápido da próxima vez.
No meio da tarde, já chegava a Sobral.
O domingo estava fechado, nublado, com aquele céu cinza que parecia anunciar algo maior do que chuva.
Dirigi direto para o bairro da Angelina.
Mas não chamei.
Não liguei de imediato.
Fiquei parado ali, observando.
Vi o ex dela num boteco qualquer, encostado no balcão com um copo na mão, conversando com alguns caras que pareciam amigos.
Ele também me viu ou reconheceu o carro.
Mas não se mexeu.
Apenas observou.
Como quem sabe mais do que devia, sabia o motivo que me levava até ali, sabia que ela não lhe pertence mais.
Liguei.
Insisti.
Sem resposta.
Desci, caminhei até o portão. Bati.
Não demorou para a porta se abrir, e quem surgiu foi Ana Júlia. Ela ria, parecia entretida com alguém dentro da casa, e quando me viu, abriu um sorriso ainda maior.
- Saulo