Não mandei

Saulo Prado

Depois de um dia cheio, não foi por boa vontade que saí de casa. Frantesca insistiu, arrastou até dona Laura junto. Minha mãe estava estranha, cabisbaixa, mergulhada em pensamentos que não quis dividir comigo. Aquilo me corroía por dentro. Tive medo. Medo dela não querer morar comigo, medo de ir embora de novo. E quando comentou, de forma quase solta, que amanhã viria uma moça falar comigo... meu estômago revirou. Procurei seu olhar pelo retrovisor, tentando encontrar uma resposta, mas ela desviou, como se me escondesse algo.

Chegamos ao sushi que Frantesca tanto queria. Entrei com o braço dela apoiado no meu, já cansado da encenação de marido perfeito. Mas, de repente, meu corpo inteiro parou.

De longe, reconheci a silhueta.

Angelina.

Ela se levantava da mesa, se afastando, e por um segundo pensei estar delirando. Angelina... aqui?

A sensação foi instantânea: eu me senti um homem infiel. Louco por uma mulher que não é minha, que carrega em seu dedo o anel que outro coloco
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