Angelina Garcia
A sexta-feira foi fechada com chave de ouro. Mais uma audiência vencida. A sensação de dever cumprido sempre me aquecia o peito, talvez porque meu mundo fora do fórum estivesse sempre em frangalhos. Aqui, pelo menos, eu sabia o que fazer. Aqui, eu ganhava.
O doutor Saulo é bom. Muito bom. E a cada dia eu sabia disso. Quando trabalhamos lado a lado, parece cena de teatro. Tem algo na maneira como ele conduz uma fala, como constrói um argumento, como me olha entre uma pausa e outra... É como se estivéssemos em cena, atuando, e juntos. Isso me desestabiliza. Me faz esquecer de que não posso me permitir nada com ele.
E o pior é que, de alguma maneira torta, eu gosto dessa ousadia. Gosto da maneira como ele me provoca sem tocar. Como se já tivesse acesso ao meu corpo pelo simples fato de me conhecer em silêncio.
Respirei fundo e fui até a porta do escritório.
— Doutor, se o senhor não for precisar mais de mim, posso sair mais cedo?
Ele parou de digitar. Olhou por cima do