Clara sempre foi feita de luz. Formada em design, construiu uma carreira sólida e criativa, colecionando prêmios e reconhecimento em estúdios renomados. Com talento e sensibilidade, ela transformava ideias em beleza — até que o mundo perdeu a cor. A morte de Pedro, seu irmão e melhor amigo, virou sua vida do avesso. Disseram que foi um acidente, mas Clara nunca acreditou. Há nomes sussurrados, olhares desviados e uma dor que não se explica. Em busca de respostas, ela aceita curar uma exposição na Villa Aquarela, um espaço artístico cercado por beleza, silêncio e segredos. Gabriel é arquiteto e herdeiro de uma tradicional empresa da construção civil. Retorna ao Brasil para apoiar sua irmã, Júlia — envolvida no acidente que tirou a vida de Pedro. A família está em ruínas, e ele tenta reconstruir o que pode. Para retomar sua carreira e ajudar nos negócios da família, assume a coordenação da mesma exposição, sem saber que Clara, a curadora com quem vai trabalhar, é irmã do jovem cuja morte abalou sua família. Eles se conhecem entre obras e projetos, sem saber que compartilham uma tragédia. Clara, movida por dor e desconfiança. Gabriel, dividido entre proteger Júlia e seguir em frente. A conexão entre os dois cresce, mas o silêncio sobre o passado ameaça tudo. Clara quer justiça. Gabriel quer proteger sua irmã. E entre eles, há uma verdade que ainda não foi revelada — e que pode destruir qualquer chance de amor. Será que o sentimento que nasce entre os dois pode sobreviver ao peso do que foi escondido? Ou será apenas mais uma peça no quebra-cabeça da vingança?
Ler maisNossa casa não era feita de concreto — era feita de vínculos. De afeto. De uma rotina que parecia eterna, como se o tempo tivesse decidido nos poupar. Cresci cercada por amor, por estabilidade, por uma sensação quase mágica de que o mundo lá fora não podia nos tocar.
Éramos quatro: meus pais, meu irmão Pedro e eu. Gêmeos. Dois lados da mesma alma. Uma família pequena, mas inteira. Meus pais se amavam com uma leveza que resistia aos anos, e Pedro... Pedro era meu reflexo. Meu equilíbrio. Meu silêncio e minha voz. Ele sabia quando eu precisava de colo, mesmo sem que eu dissesse. E eu sentia sua dor antes que ele a nomeasse.
Nossa ligação era visceral. Desde crianças, compartilhávamos tudo — brinquedos, segredos, medos. Quando um adoecia, o outro sentia. Quando um chorava, o outro se calava. E quando crescemos, seguimos juntos: eu na arquitetura, ele na engenharia. Complementares. Parceiros. Herdeiros da empresa da família, a Tavares Engenharia e Arquitetura, que nossos pais construíram com suor e visão.
Pedro era o rosto da empresa. Carismático, firme, inspirador. Eu era a mente por trás dos projetos, detalhista, criativa, apaixonada por formas e espaços que contassem histórias. Juntos, éramos a nova geração. O futuro da marca. E, acima de tudo, irmãos que se respeitavam, se admiravam, se amavam.
Naquela noite, Pedro saiu para um evento. Um compromisso social, rápido, segundo ele. Prometeu que voltaria cedo. Que na manhã seguinte tomaria café comigo, como fazia todos os anos. Era nosso ritual: café, risos, planos. Era o nosso aniversário.
Mas naquela manhã, Pedro não voltou.
O telefone tocou às 6h13. E tudo mudou.
Disseram que foi um acidente. Que não havia culpados. Que o carro saiu da pista. Que a colisão foi inevitável.
Mas havia nomes. Júlia Monteiro. Uma festa privada. Um círculo de pessoas que não pertenciam ao nosso mundo — e que, de alguma forma, engoliram Pedro.
A mídia tratou de preencher os espaços que o silêncio deixava. Pedro, jovem empresário, vítima de uma colisão violenta. Júlia, modelo em ascensão, presente no carro. Rafael Duarte, ex-namorado dela, envolvido em perseguições anteriores. Tudo parecia um roteiro mal escrito — e Pedro, o personagem que nunca deveria ter entrado na história.
Júlia Monteiro. Mimada. Egocêntrica. Fútil. Criada em uma bolha de privilégios e bajulações. Modelo em ascensão, mais conhecida por escândalos do que por talento. Seu rosto estampava capas de revistas, mas sua reputação era feita de excessos, festas e relacionamentos conturbados. Pedro se aproximou dela sem saber o que ela carregava — ou quem a perseguia.
Rafael Duarte. Obsessivo. Violento. Incapaz de aceitar o fim. Júlia provocava, instigava, jogava com fogo. E Pedro, com sua integridade e desejo de proteger, entrou no meio. Sem saber que estava pisando em terreno instável. Sem saber que seria o sacrifício.
Naquele dia, deixei de ser só Clara. Passei a ser a irmã que ficou. A que carrega a ausência como uma cicatriz invisível. A que não aceita o silêncio como resposta.
Hoje, dois meses depois, estou diante de uma nova porta. Um novo projeto. Uma nova cidade.
Fui contratada para decorar a casa de Gabriel Monteiro.
O irmão de Júlia.
O homem que nunca conheci, mas que agora é minha ponte para a verdade.
Gabriel é tudo o que a mídia ama: ator internacional, premiado, desejado. Dono de uma produtora de cinema, rosto de campanhas milionárias, presença constante em tapetes vermelhos. Rico, influente, cercado por fama — mas envolto em mistério. Um homem que parece ter tudo, mas que guarda mais do que mostra.
Ele é famoso. Ele é o elo que me falta.
Eu me aproximei com cuidado, com charme, com estratégia. Ele não desconfia. E talvez nunca desconfie — até que seja tarde demais.
Porque eu não vim para criar. Vim para destruir.
Por Pedro. Pela verdade. Pela justiça que ninguém quis buscar.
E se, no caminho, eu perder o que resta de mim... que seja.
Porque há promessas que não se quebram com o tempo.
Só com sangue.
Três dias depois do nosso primeiro encontro, fui até a casa do Gabriel.O sol filtrava-se pelas árvores, desenhando sombras suaves no caminho de pedras. A luz parecia brincar com o chão, como se anunciasse algo novo. A casa, imponente mas acolhedora, se revelava aos poucos — como alguém que não tem pressa de ser compreendido.Gabriel me esperava na entrada, com aquele sorriso contido e o olhar curioso que eu já começava a reconhecer. Havia algo nele que misturava leveza com expectativa, como quem abre a porta não apenas de uma casa, mas de uma história.— Pronta para conhecer cada canto da minha casa? — ele perguntou, estendendo a mão como quem me convidava a entrar num mundo só dele.Assenti com um leve sorriso, e caminhamos juntos pelos corredores, jardins e salas que pareciam coisa de cinema — ainda que precisassem de alma. A estrutura era impecável, mas faltava vida. Faltava história.Ele me contava sobre cada espaço, sobre tudo que queria colocar, decorar, mudar. E eu absorvia tu
Agora estou aqui. Na Tavares Arquitetura e Engenharia, cercada por projetos, reuniões e vozes que parecem sempre saber exatamente para onde estão indo. Eu, por outro lado, ainda estou tentando descobrir.Sou Clara, 25 anos, arquiteta. E desde que ele se foi, tudo parece ter mudado de cor. O trabalho, que antes me preenchia, agora exige esforço. Concentrar-se virou um exercício de resistência. Mas estou tentando. Um dia de cada vez.Hoje, recebi um novo projeto. Um cliente que deseja transformar sua casa em um espaço que o represente. Um lar com alma.O nome na ficha me fez parar: Gabriel Tavares.Ator, 30 anos, famoso, cercado por holofotes e mistério. Nunca o conheci pessoalmente, mas sabia o suficiente — o sobrenome, a influência, a proximidade com Júlia.E foi aí que senti. Como se o destino tivesse começado a se mover por conta própria. Eu não precisei enviar propostas, nem articular contatos. Ele veio até mim.Gabriel pode ser a chave. E eu estava prestes a girá-la.Enquanto orga
Seguir em frente parece uma ideia distante. Quase cruel.Desde que Pedro se foi, tudo perdeu a cor. A casa dos meus pais, onde ainda moro, está cheia de lembranças dele — cada canto, cada fotografia, cada silêncio. Pedro era meu único irmão, meu parceiro de vida. E agora, é como se metade de mim tivesse sido arrancada.Acordo cedo, mas não por vontade. O sono virou refúgio, e mesmo ele anda falhando. Mamãe bate na porta do quarto com delicadeza, como se tivesse medo de me quebrar. Às vezes, acho que já quebrei mesmo.Minha melhor amiga, Luísa, tem sido meu fio de sustentação. Ela aparece quase todos os dias, trazendo café, palavras doces e uma paciência que parece infinita. Só ela consegue me fazer rir, mesmo que por segundos. Só ela entende que não é questão de superar — é questão de aprender a respirar com esse buraco no peito.— Clara, abre a porta, por favor… — a voz da minha mãe atravessa a madeira com uma ternura que me corta por dentro.Mas eu não consigo. Não é por falta de am
Nossa casa não era feita de concreto — era feita de vínculos. De afeto. De uma rotina que parecia eterna, como se o tempo tivesse decidido nos poupar. Cresci cercada por amor, por estabilidade, por uma sensação quase mágica de que o mundo lá fora não podia nos tocar.Éramos quatro: meus pais, meu irmão Pedro e eu. Gêmeos. Dois lados da mesma alma. Uma família pequena, mas inteira. Meus pais se amavam com uma leveza que resistia aos anos, e Pedro... Pedro era meu reflexo. Meu equilíbrio. Meu silêncio e minha voz. Ele sabia quando eu precisava de colo, mesmo sem que eu dissesse. E eu sentia sua dor antes que ele a nomeasse.Nossa ligação era visceral. Desde crianças, compartilhávamos tudo — brinquedos, segredos, medos. Quando um adoecia, o outro sentia. Quando um chorava, o outro se calava. E quando crescemos, seguimos juntos: eu na arquitetura, ele na engenharia. Complementares. Parceiros. Herdeiros da empresa da família, a Tavares Engenharia e Arquitetura, que nossos pais construíram
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