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Capítulo 5 – O Olhar do Chefe

Helena chegou cedo naquela manhã, tentando disfarçar a ansiedade que lhe consumia desde a noite anterior. Os sonhos com Adriano estavam ficando cada vez mais intensos, quase reais, e o simples pensamento de reencontrá-lo fazia seu corpo reagir de maneira difícil de controlar.

Na sala de reuniões, Adriano já estava à mesa, revisando alguns relatórios. O sorriso discreto que ele lhe deu, carregado de familiaridade, foi o suficiente para que Helena sentisse o chão balançar. Não era apenas um colega de trabalho; era alguém que começava a ocupar um espaço perigoso dentro dela.

O problema é que não estavam sozinhos. O chefe, Diretor Artur, havia decidido acompanhar de perto a equipe naquela semana. Um homem meticuloso, de fala pausada e olhar sempre avaliador, tinha o hábito de observar mais do que falar.

Enquanto Helena e Adriano trocavam comentários rápidos sobre os dados, Artur manteve-se em silêncio, sentado ao fundo, fingindo revisar papéis. Mas sua atenção estava voltada para cada gesto, cada olhar.

Helena não percebeu no início. Estava envolvida na troca natural com Adriano, que tornava o trabalho mais leve. Eles riam discretamente de um erro numérico, comentavam insights que surgiam em meio à revisão, e isso criava um fluxo quase espontâneo.

Mas Artur não via leveza — via distração.

O que para eles era cumplicidade, para o chefe parecia conluio. A proximidade excessiva não lhe agradava. Ele acreditava que Adriano, ao se aproximar demais de Helena, poderia perder a firmeza necessária para cobrar resultados.

Quando a reunião terminou, Artur pediu que Helena permanecesse. Adriano hesitou, mas, diante do olhar firme do chefe, deixou a sala em silêncio.

— Helena — começou Artur, com a voz baixa, mas carregada de seriedade. — Tenho notado certa… proximidade entre você e Adriano.

O coração dela disparou.

— Proximidade? — tentou ganhar tempo. — Estamos apenas trabalhando juntos, nos dedicando às metas.

Artur a encarou por alguns segundos, como se pudesse atravessar qualquer desculpa.

— Não me entenda mal, mas relações de cumplicidade podem afetar a produtividade. Já vi isso acontecer antes. Quando existe amizade demais, ou outro tipo de laço, a cobrança diminui. E aqui precisamos de resultados.

Helena sentiu o rosto esquentar. Não sabia se a raiva era por se sentir acusada ou pelo medo de que o chefe estivesse enxergando o que nem ela própria tinha coragem de admitir.

— Eu entendo, senhor — respondeu, esforçando-se para manter a voz firme. — Posso lhe garantir que não deixo nada interferir no meu desempenho.

Artur assentiu, mas seu olhar permaneceu desconfiado.

— Espero que sim. Adriano é um bom profissional, mas preciso dele exigente, objetivo. Não quero que essa relação de vocês prejudique as metas.

As palavras ficaram ecoando dentro dela como uma advertência. Quando saiu da sala, encontrou Adriano à espera no corredor.

— Está tudo bem? — perguntou ele, atento.

— Está. — respondeu rápido demais. — Só conversa de rotina.

Mas Adriano percebeu o incômodo.

Durante o resto do dia, Helena tentou manter distância. Evitava olhares prolongados, evitava comentários que pudessem parecer pessoais. Mas quanto mais se esforçava, mais sentia o peso da ausência. O silêncio entre eles não era natural; era forçado, e isso doía mais do que admitia.

À tarde, Adriano se aproximou discretamente de sua mesa.

— O que ele te disse?

Helena respirou fundo antes de responder.

— Que nossa… proximidade não lhe agrada. Ele acha que pode atrapalhar a produtividade, que você deixaria de me cobrar.

Adriano franziu o cenho, visivelmente incomodado.

— Isso é absurdo. Trabalhamos melhor porque existe confiança.

— Para ele, confiança é fraqueza. — Helena suspirou, cansada. — E, de certa forma, eu o entendo.

Adriano se inclinou um pouco mais, baixando a voz.

— Não quero que você se sinta prejudicada por causa de mim. Se precisar, mantenho distância.

As palavras dele, embora ditas com boa intenção, soaram como uma ameaça velada ao que construíram sem perceber: a cumplicidade, os olhares, os sussurros não ditos.

— Não sei se é isso que quero. — confessou Helena, baixinho, quase sem encarar.

O silêncio entre eles foi interrompido pela presença repentina de Artur, atravessando o corredor. O chefe lançou um olhar rápido, mas suficientemente carregado para lembrá-los de que não estavam livres.

Naquela noite, Helena voltou para casa com um turbilhão de pensamentos. Sentia-se dividida entre o desejo de se aproximar ainda mais de Adriano e o receio de que isso pudesse comprometer não só o trabalho, mas também a imagem que ainda lutava para preservar.

Deitou-se na cama, mais uma vez ao lado de um marido indiferente, e percebeu que a vida lhe impunha escolhas difíceis. Entre o silêncio de um casamento vazio e a intensidade de um desejo proibido, havia agora o olhar vigilante de um chefe que não lhe permitia sequer a leveza de uma cumplicidade inocente.

Fechou os olhos e, como em todas as noites, Adriano veio em sonho. Só que desta vez, em vez de um beijo, ela sonhou com o som da voz de Artur interrompendo, lembrando-lhe que até os sonhos carregavam riscos.

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