A estrada parecia mais longa do que nunca.
Helena dirigia com as janelas fechadas e o ar-condicionado baixo, tentando conter o enjoo que insistia em voltar.
Lucas dormia no banco de trás, o rostinho tranquilo contrastando com o turbilhão dentro dela.
No retrovisor, a cidade antiga se apagava — as lembranças, o escritório, Artur com seu olhar severo, Lígia tentando disfarçar a compaixão, Adriano.
Principalmente Adriano.
Cada quilômetro percorrido era uma tentativa de esquecer o que havia ficado.
Mas como se esquece alguém que ainda vive dentro de você?
Helena encostou a mão no ventre, discretamente.
Era quase imperceptível ainda, mas real.
E o medo de tudo desabar a fazia respirar devagar, como se o ar pudesse organizar o que o coração não conseguia.
Sabia que Adriano já desconfiava que era dele.
Talvez até soubesse.
O olhar dele naqueles últimos dias — intenso, preocupado, quase desesperado — denunciava que algo havia mudado.
Mas ela não quis confirmar.
Não