Mariana sempre se orgulhara da sua intuição. Era o tipo de mulher que percebia pequenas variações no tom de voz, na escolha das palavras, nos gestos quase imperceptíveis. Talvez por isso fosse tão querida pelos amigos: parecia sempre adivinhar quando alguém precisava de atenção, de cuidado, de um gesto de carinho.
Com Adriano, não era diferente. Vinte anos de relacionamento — mesmo com a separação recente e a reaproximação que os envolvia agora — haviam ensinado a ela a ler seu marido como quem lê um livro já gasto nas mãos, mas cheio de nuances.
Naquela noite de sexta-feira, quando Adriano retornou, Mariana reparou. Adriano estava quieto, olhando a parede com uma fixação que parecia mais fuga do que concentração.
— Você está cansado? — perguntou, sorrindo, como quem não queria invadir.
— Um pouco — respondeu ele, sem olha-la no olhos.
O tom era neutro demais. Não havia peso, mas também não havia calor. E Mariana sentiu. Algo não estava no lugar.
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Os dias seguintes só