Narrado por Zeus Marino
Deixei Léa em casa antes do último suspiro do dia. Não moramos juntos — nunca foi esse o acordo — e, ainda assim, naquele instante, senti como se estivéssemos criando uma casa temporária só para proteger aquilo que me fez esquecer de muitas regras: o corpo pequeno nos meus braços, a respiração miúda de Luc, o calor que era responsabilidade e culpa ao mesmo tempo.
A porta abriu num vácuo: ela parecia menor do que nos episódios anteriores, como se o mundo tivesse apertado à volta. Devia ter sido rápido, mas parei mais do que o planejado. Segurei o olhar dela e falei curto, porque palavras longas viram desculpas e eu não tinha nenhuma para oferecer.
— Fecha a porta. Tranca tudo. Ninguém entra sem eu mandar.
— E você? — ela tentou, a voz mole, como fita cortada.
— Vou para a casa do Ares. Não vem. — Foi dito como ordem e também como promessa.
Entreguei a ela dois números escritos num papel dobrado: os nomes dos capos que fariam ronda pela vizinhança, o número do ad