Narrado por Ares
A manhã tinha o peso de aço quando atravessei os corredores da casa. As janelas altas deixavam a luz entrar em faixas retas, cortando o ar como lâminas. Cada passo meu ecoava contra o mármore, anunciando que eu não vinha para conversa leve. No andar de baixo, os empregados se moviam em silêncio estudado, porque já sabiam que algo grande estava para acontecer. Ninguém encostava no Don quando o semblante dele carregava essa sombra.
Encontrei Zeus no salão principal, de frente para a parede de vidro que dava para os jardins. Ele estava imóvel, braços cruzados, ombros tensos, como se fosse parte da arquitetura. Não mexia nada além dos olhos, fixos em algum ponto distante que só ele via. O irmão do meio sempre soube o valor do silêncio — e era exatamente por isso que eu sabia que já me esperava.
Aproximei-me devagar. Não quis suavizar a voz, porque entre nós a verdade nunca se disfarça.
— Eles querem adiantar o casamento.
As palavras caíram pesadas, sem acolchoamento. Zeus