Narrado por Ares
Quando cheguei à sala, Zeus já estava onde sempre parece melhor: imóvel, medindo o espaço como quem calcula distância entre sentenças. A casa respirava o silêncio que precede decisões. Do lado de fora, o jardim brilhava com a luz cortante da tarde; aqui dentro, só o tom grave da nossa conversa interessava.
Eu não me sentei de imediato. Fiquei em pé, apoiando as mãos na mesa de carvalho, o mesmo móvel onde centenas de acordos foram assinados e deixei que ele sentisse o peso da presença. Ele me olhou sem surpresa. Eu sabia que ele já tinha ouvido da visita de Besa; de fato, o som dela ainda ecoava pelos corredores, como pedradas numa vidraça fina.
— Então ela veio — comecei. — E exigiu o quê?
Zeus não se mexeu. A calma dele sempre foi arma; quem não se apressa tende a levar vantagem.
— Pediu que eu mande a mulher e a criança embora — respondeu ele, seco. — Disse que não aceita humilhação.
Eu respirei lento, contando mentalmente os elementos que aquela frase carregava: a