Narrado por Zeus Marino
A estrada para Otranto corta o Salento como uma cicatriz clara. De um lado, olivais antigos; do outro, o Adriático brilhando duro, feito lâmina. Ares escolheu o local a dedo, perto do mar que nos separa e nos une aos albaneses. Ele gosta dessas metáforas de chefe. Eu, não. Mar é só mar. O que importa é quem segura o leme quando o vento vira.
Viemos em dois carros. No meu, eu e Apolo. No da frente, Ares e dois capos. Nenhuma escolta ostensiva; só o necessário para não virar manchete. “Sem plateia, sem fotos, sem telefonema vazado”, martelou Ares antes de sairmos. O noivado alongado que ele cedeu, três, quatro meses,começava hoje, com um encontro supervisionado, mas respirável. “Margem”, como Apolo gosta de dizer.
Apolo quebrou o silêncio da cabine:
Apolo:
— Vai com essa cara dura mesmo, do tipo “boa noite, paz assinada, casamento marcado”?
Zeus:
— Vou como sou. Quem precisa de teatro é quem tem pouca verdade.
Apolo riu, mexendo no relógio:
— Teu problema nunca f