Narrado por Ivanov Barinov
O silêncio de Moscou é traiçoeiro.
A cidade parece congelada, imóvel, intocável. Mas debaixo da superfície nevada, o caos sussurra. Máquinas se movem. Homens morrem. E eu observo tudo.
Com um copo de vodca na mão e o rosto marcado pelas décadas, eu ouço o eco da guerra chegando da Europa como um trovão distante. Uma guerra que, até ontem, não era minha.
Mas agora é.
— Don Ivanov... Alonso está na linha.
Levantei o olhar. O assistente sabia que não devia interromper, mas o nome dito o fazia tremer.
Alonso. O verme espanhol obcecado por vingança, pela glória que lhe foi arrancada. Um homem imprevisível, mas... útil.
Apertei o botão no painel de vidro. A imagem surgiu na tela. O rosto de Alonso estava mais marcado que da última vez que nos falamos. Olheiras fundas. Lábios secos. O olhar de quem perdeu algo... ou tudo.
Alonso: — Don Barinov... finalmente conseguimos nos falar.
Ivanov: — Não é fácil me encontrar, Alonso. Sorte sua que eu estava