Narrado por Apolo
O silêncio é estranho.
Depois de anos vivendo entre tiros, explosões e planos de vingança, acordar e ouvir apenas o vento batendo nas janelas é quase desconfortável. Quase. Porque logo sinto o cheiro do café vindo da cozinha e lembro que não estou sozinho. Que escolhi esse caminho. Que sobrevivi até aqui para isso.
Violeta canta baixo alguma música espanhola que não reconheço. A voz dela se mistura com o som da chaleira, o bater leve da colher contra a xícara. Eu fico parado alguns segundos na porta, apenas olhando. O sol entra pela janela, pintando os cabelos dela de dourado. É assim que começa o meu dia agora. Não com sangue, não com fumaça… mas com luz.
Ela percebe meu olhar e sorri. Um sorriso simples, mas que me atinge mais do que qualquer bala já fez.
— Vai ficar aí plantado? — provoca, sem parar de mexer o café. — Ou vai sentar e me fazer companhia?
— Estou apreciando a paisagem — respondo, puxando uma cadeira. — A mais bonita da Espanha.
Ela revira os olhos,