Narrado por Apolo
Nove meses depois, a Espanha tem um cheiro que eu aprendi a chamar de casa. Sal, pão quente, terra úmida depois da rega do jardim, perfume de Violeta espalhado pela casa de Valência. O relógio da guerra, que sempre bateu alto dentro de mim, aprendeu a falar baixo. Não que tenha sumido, relógio de homem como eu não some, mas desacelerou. Às vezes, no silêncio da manhã, consigo ouvir outra coisa por cima dele: o som que mudou minha vida no dia em que o médico encostou um aparelho gelado na barriga da Violeta e o consultório inteiro foi tomado por batidas apressadas.
Tum-tum-tum-tum.
Ali eu entendi que a paz tem som.
Vivi cada semana dessa gestação como se fosse uma missão. Não a missão de matar, essa eu conheço de olhos fechados, mas a de garantir que nada, absolutamente nada, encostasse nela. Troquei homens, rotas, carros, hábitos. Instalei um protocolo simples e inegociável: Violeta não anda sozinha. Nem no quintal. Nem na praia. Nem para comprar flores. Ela reclamou