Narrado por Zeus Marino
A sala de reuniões da casa de Ares sempre teve cheiro de pólvora guardada. O mapa da Calábria na parede, as pastas empilhadas, o relógio antigo marcando as horas como se quisesse lembrar a todos que tempo é munição. Quando Enzo deixou a bomba na minha mesa — “a Léa teve um bebê, e pode ser seu” — eu não disse nada a mais. Mas sabia que não poderia guardar só para mim.
Ares não perdoa segredos dentro da família. Apolo, por mais teimoso, não aceita silêncio onde deveria haver palavra. Então, quando chamei os dois naquela noite, o clima mudou antes mesmo de eu abrir a boca.
Ares chegou primeiro, de passos firmes, camisa ainda com cheiro de fumaça de charuto. Apolo veio depois, sem esconder o incômodo de ter sido arrancado do quarto onde Violetta e Matteo o esperavam. Eu estava de pé, junto à janela, olhando para o mar. O Adriático é belo e traiçoeiro. Como quase tudo na nossa vida.
— O que é tão urgente? — Ares abriu, a voz cortante. — Temos reuniões com os albane