Narrado por Zeus Marino
A noite tinha caído pesada sobre a Calábria. O salão estava quase vazio, só restava o estalo da lareira e o silêncio típico da casa quando Ares se recolhia cedo e Apolo subia para dormir ao lado da família. Eu fiquei na varanda, cigarro queimando devagar, o vento trazendo cheiro de sal do mar. Ares dizia que silêncio era poder. Para mim, silêncio era apenas o intervalo entre uma guerra e outra.
Ouvi passos. Não eram de empregado. Não eram de Apolo. Reconheci pela cadência. Enzo.
Ele entrou sem pedir licença, o casaco ainda cheirando à estrada, os olhos carregando quilômetros e segredos. Sentou de frente para mim, largando a pasta no chão. Não falou de imediato. Isso já era sinal de que vinha coisa grande.
— Voltei da França, — disse, a voz baixa, firme. — Estive em Paris, depois Marselha. Rasteei a Léa.
Meu peito não se moveu, mas algo dentro travou. Traguei mais fundo o cigarro.
— E? — perguntei, sem emoção.
Enzo respirou fundo, como se o ar fosse pesado demai