Narrado por Léa
A manhã chegou antes de mim.
O apartamento era silencioso demais, como se a madrugada ainda respirasse entre as paredes. Mas eu não dormi de verdade. Cada vez que fechava os olhos, a mesma imagem voltava: Zeus, de pé no escuro, embalando meu filho no colo, cantando em italiano até o choro cessar.
Eu virei de um lado para o outro no colchão, tentando expulsar aquilo da minha cabeça. Não consegui.
Levantei cedo. O bebê ainda dormia no berço ao lado da cama, tranquilo, como se tivesse aprendido a confiar na voz que não era a minha. E essa era a parte que mais me machucava: ele acalmou mais rápido nos braços do Zeus do que nos meus.
Passei a mão pelos cabelos, respirei fundo e fui até a cozinha. Precisava me ocupar, precisava lembrar que ainda tinha algum controle. Coloquei água para ferver, peguei o café. O cheiro logo se espalhou pelo ar, familiar, quase reconfortante.
Quase.
Porque nada era reconfortante com ele aqui.
Ouvi passos pesados no corredor. Não precisei olhar