Narrado por Zeus Marino
A mesa ainda tinha cheiro de vinho e alho quando ela se levantou.
Léa recolheu o prato, passou por mim sem dizer mais nada e sumiu no corredor. O bebê começou a resmungar no quarto, e ela foi até ele, natural, como se aquele fosse o único papel que lhe cabia. Eu fiquei. Sozinho, com o prato ainda cheio pela metade, o vinho pela metade e a frase dela inteira na minha cabeça.
"Em uma realidade distante… nós poderíamos ser uma família."
Palavras simples. Mas elas bateram como bala.
A varanda estava aberta. Saí, acendi um cigarro. O vento frio de Paris entrou como faca na pele, mas não cortou mais do que o que eu tinha acabado de ouvir.
Família.
Eu nunca quis essa palavra. Nunca confiei nela. Amor, laços, promessas… tudo besteira. O que mantém um homem vivo é disciplina. O que mantém um nome vivo é sangue. E o sangue não precisa de afeto. Só precisa de força.
Mas quando ela falou, eu vi o que não devia.
Por um instante, imaginei. Eu, Léa e o pequeno à mesa, como se