Narrado por Zeus Marino
A noite passou diferente de todas as outras.
Não foi porque estávamos em Paris. Não foi por causa do apartamento grande demais, nem da vista que jogava luzes da cidade contra as janelas. Foi porque ali, naquela madrugada, eu não dormi e pela primeira vez, isso não me incomodou.
O bebê chorou duas vezes. Pequeno demais para entender o silêncio que eu tanto valorizo, mas forte o suficiente para encher o quarto inteiro com aquele som urgente.
Na primeira, eu me levantei antes mesmo que Léa pudesse mexer um músculo. Peguei o pequeno no colo, firme, sem hesitar. O corpo dele se encaixou no meu peito como se tivesse nascido para caber ali. Ele chorava como se o mundo estivesse contra ele. E de certa forma estava. Mas eu cantei. Baixo, em italiano, a mesma melodia que minha mãe usava quando Ares, Apolo e eu ainda éramos meninos.
Aos poucos, o choro diminuiu. Primeiro soluços, depois resmungos, até que veio o silêncio. Eu não me movi de imediato. Fiquei parado, embalan