CAPÍTULO 130.
Depois de quase uma hora andando naquele vento cortante que parece me esfolar os ossos, chego enfim à periferia de Baltiysk. Meu refúgio. Meu buraco. Meu castelo de um cômodo e sala com cheiro de derrota, mofo e abandono. Empurro a porta com o ombro e sou recebida com aquele cheiro agridoce de coisas velhas misturadas com umidade. Um cheiro que gruda nos pulmões e lembra a gente, todo santo dia, que existe coisa que morre em silêncio. Como minha mãe.
Assim que fecho a porta, o som da tranca ressoa seco, e a realidade cai sobre mim com o peso de um prédio em chamas.
Minha mãe morreu.
Acabou.
Ela se foi.
E eu nem tenho mais lágrimas pra chorar. Secaram, igual os olhos dela no fim.
Me escoro na porta e escorrego até o chão, como se minhas pernas tivessem desistido junto comigo. Fico ali, sentada com as costas na madeira fria e os pensamentos zunindo feito abelhas loucas.
Eu tentei me matar. Essa é a verdade. Tentei me desligar de tudo porque achei que era o fim. Mas... não consegui. Falt