— Ana Cooper —
Seul — 8h da manhã Era o meu primeiro dia de trabalho. E eu estava atrasada. Meu coração disparava como se quisesse fugir do peito. Corri até o guarda-roupa e puxei a primeira coisa que vi: uma saia justa, uma blusa básica — mas elegante — e um salto médio. Maquiagem discreta, cabelo preso às pressas. Tentei montar um “visual de secretária” respeitável em menos de dez minutos. O celular tocava sem parar, mas entre a bagunça de roupas espalhadas e minha pressa, não conseguia achá-lo. Quando finalmente encontrei, atendi ofegante, com a voz quase falhando. — Ana? — a voz de Sophia era inconfundível, e carregada de urgência. — Oi, eu est… — Pelo amor de Deus, onde você está? O Sr. Valentim já chegou! Combinamos que você estaria aqui uma hora antes! Lembra? Olhei para o relógio de pulso, confusa. Eu ainda tinha alguns minutos… certo? — Eu… ainda tenho tempo… — Ana, você está atrasadíssima! Minutos são cruciais aqui. Apenas corra! — ela desligou antes que eu pudesse responder. Deixei tudo como estava, agarrei minha bolsa e saí correndo. Merda, merda, merda. Era meu primeiro dia… e eu já estava fodida. Se tudo que Sophia me contou sobre o Sr. Valentim fosse verdade, eu tinha grandes chances de ser jogada pela janela antes do almoço. ✧✧✧ Cheguei na empresa com o coração na garganta. O elevador parecia subir em câmera lenta. Assim que as portas se abriram no andar da presidência, vi Sophia esperando na recepção com os braços cruzados e os olhos fixos em mim. — Ana! Por Cristo! Ele já está perguntando por você! Vamos! Vou te apresentar agora. — Ela deu uma olhada rápida no meu visual e sorriu. — Pelo menos você está apresentável. Está linda. — Obrigada… eu fiz o que pude — respondi entre respirações curtas. Meus nervos estavam em frangalhos. Atrasei no primeiro dia. E agora ia encarar o chefe… o temido Sr. Valentim. Entramos na sala dele. A atmosfera era pesada, silenciosa. Ele sequer ergueu a cabeça quando entramos — apenas lançou um olhar breve a Sophia e voltou para a tela do computador. Mas quando seus olhos encontraram os meus, por um instante, o tempo congelou. Ele me encarou. Sem sorrir. Sem piscar. Sem pressa. Depois voltou a digitar, como se eu não estivesse ali. Eu tô ferrada. — Sr. Valentim — Sophia anunciou com firmeza — esta é Ana Cooper, sua nova secretária. Ela começa hoje. — Está atrasada — disse ele, sem tirar os olhos do monitor. Olhei para Sophia em desespero, que apenas fez um leve gesto com a cabeça para que eu me manifestasse. — Bom dia, Sr. Valentim. Me desculpe pelo atraso… não irá se repetir — falei, curvando-me levemente. Senti seu olhar percorrer meu corpo como um raio. Um arrepio subiu pela minha espinha. — Deixarei vocês a sós — disse Sophia, curvando-se com elegância antes de sair. O olhar dela era de quem dizia silenciosamente: Boa sorte, querida. As palavras dela ecoaram na minha mente: “Ele late, mas não morde.” Será mesmo? Tentei lembrar da ordem das agendas, das funções… mas ele permaneceu imóvel, completamente concentrado em sua tela. Silêncio. Total. Observei o homem à minha frente. Cabelos escuros impecavelmente penteados, pele clara, mandíbula marcada. Tinha mãos grandes e elegantes, que digitavam como se dançassem sobre o teclado. O sol da manhã entrava pelas janelas e o deixava ainda mais… imponente. Foi então que ele falou, sem me encarar: — Gosta de observar, Srta. Cooper? Meus olhos se arregalaram. — Me desculpe, Sr. Valentim — respondi, tentando disfarçar o constrangimento. Eu devia estar vermelha como um pimentão. Suando, nervosa, e — o pior — totalmente exposta. A voz dele era áspera, profunda… do tipo que arranha a pele sem nem precisar tocar. Ele continuou mexendo nos papéis sobre a mesa, como se eu fosse invisível. Decidi focar na sala. Era ampla, de vidro, mas com persianas para momentos de privacidade. Um grande sofá preto ocupava o canto, ao lado de uma mesa de centro que exibia um tabuleiro de paduk. Havia prateleiras, plantas, e uma porta que presumi ser de um banheiro privativo. — Já terminou a inspeção, Srta.? Engoli seco. — Desculpe novamente. Ele suspirou, claramente impaciente. — Aqui na KN, pontualidade é essencial. Está atrasada e agora está me fazendo perder tempo. Tente manter a calma, Ana. — As agendas — disse ele, sem levantar a cabeça. Peguei rapidamente os materiais e me aproximei. — Pronto, senhor. Ele me lançou um olhar de lado, e… sorriu. Um sorriso torto. Arrogante. Filho da mãe sexy. — Você fala, afinal? Pensei que só soubesse olhar. — O senhor tem uma reunião com o RH às 14h. Estão discutindo problemas com alguns funcionários. Ele não respondeu. Apenas digitava. — A outra agenda — murmurou. Droga. Tinha esquecido de abrir a segunda. — Perdão, ainda estou me ambientando… — Pare de pedir desculpas, Srta. Cooper. — O tom dele era afiado. Me senti ridícula. Folheei a segunda agenda o mais rápido que pude. — Reunião às 11h com os representantes mexicanos. — Você fala quais línguas? — Espanhol, português brasileiro, francês e um pouco de grego. Ele fez uma anotação silenciosa na própria agenda. Se ele tem agenda, por que EU tenho que organizar três? — Pode ir para sua mesa. Enquanto saía, sentia seu olhar em mim, como se queimasse minhas costas. A tensão me deixava zonza. Cheguei até minha mesa e me joguei na cadeira, tentando recuperar o fôlego. Bem-vinda ao inferno particular do Sr. Lion Valentim. Abri as agendas. A pessoal dele estava lotada. Flores para entregar, jantares… com várias mulheres. Não consegui evitar um leve arquejo. Claro, né… bonito, rico, irresistível. Não deve faltar quem queira estar com ele. Ou quem ele deseje. Liguei o computador e comecei a organizar as pastas. Vi viagens marcadas, reuniões internacionais, hotéis de luxo, e momentos de lazer. Tudo meticulosamente planejado. — Bom dia — ouvi uma voz masculina atrás de mim. Grossa. Bem-humorada. — Então é você a nova secretária? Bom… boa sorte. Vai precisar. Levantei a cabeça, surpresa. — Bom dia. Sou Ana Cooper — respondi, sorrindo sem graça. — Não precisa me anunciar. Ele já está sorrindo pra mim do aquário dele — brincou, apontando para a sala do CEO. Olhei para a sala e, de fato, Lion estava ali… sorrindo. Um sorriso enigmático. Aquilo me desarmou por completo. — Mesmo assim, vou anunciá-lo — disse, tentando manter a compostura. Peguei o telefone, respirei fundo e disquei. — O Sr. Fernando está aqui, Sr. Valentim. Do outro lado da linha, ouvi uma risada rouca. Minha pele se arrepiou inteira. — Pode mandar entrar.