CAPÍTULO 02

— Narrador —

Depois de se estabelecer em Seul, Ana não perdeu tempo. Determinada a começar sua nova vida com o pé direito, ela mergulhou de cabeça na busca por um emprego. Enviou currículos impecáveis, cuidadosamente traduzidos e revisados, para empresas proeminentes da cidade: a gigante KN, a inovadora Hadmet e até mesmo o tradicional Escritório de Advocacia de Seul.

A cada clique no botão “enviar”, o coração dela oscilava entre o entusiasmo e a incerteza. Era como lançar uma garrafa ao mar, esperando que alguma daquelas mensagens encontrasse seu destino.

Enquanto as respostas não chegavam, Ana decidiu viver Seul intensamente. Passeava pelas ruas vibrantes como quem anda por um sonho colorido. Se deliciava com pratos que nunca imaginou experimentar — o ensopado de kimchi que aquecia até a alma, o frango crocante que parecia derreter na boca. Cada sabor era um lembrete de que ela estava longe de casa, mas exatamente onde deveria estar.

Às vezes, à noite, ela jantava sozinha, mas conectada por chamada com Pedro, que ainda não tinha data certa para se mudar.

— A comida aqui é surreal — disse ela certa noite, com uma expressão encantada enquanto tomava sua sopa fumegante. — Sério, Pedro… eu nunca comi tão bem na minha vida.

Pedro sorriu do outro lado da tela, mas havia algo no olhar dele… um certo distanciamento que Ana não soube nomear.

— Fico feliz que esteja gostando. — ele respondeu, pegando um pedaço de tofu. — Seul é famosa não só pela comida… mas pelos procedimentos estéticos também, né?

Ela riu, tentando ignorar o leve incômodo que sentiu com aquele comentário fora de contexto. Mudou de assunto, falando com empolgação sobre os dias anteriores — sobre os mercados tradicionais, os templos antigos, as ladeiras estreitas de Bukchon Hanok e a sensação de estar numa cidade onde passado e futuro caminhavam lado a lado.

Mas, por mais que tentasse manter a mente ocupada, havia uma inquietação silenciosa dentro dela. A busca por trabalho começava a gerar ansiedade — e o comportamento de Pedro… algo ali estava fora do lugar.

Quando terminaram de jantar virtualmente, ela o encarou pela tela e perguntou:

— Tá tudo bem mesmo?

Pedro sorriu, como se não tivesse nada de errado.

— Claro que sim. Tô com saudade, só isso.

Ana sorriu de volta, mas por dentro… não acreditou completamente.

— Eu tô cansada, preciso acordar cedo amanhã — disse ela, encerrando a chamada com um beijo na tela.

— Até qualquer hora… amo você.

— Também amo você — respondeu, mas o nó no estômago não passou.

✧✧✧

Alguns dias se arrastaram. Ana checava o e-mail a cada hora, os olhos sempre esperançosos — e finalmente, a notificação apareceu. Um e-mail da empresa KN.

Seu coração disparou.

“Prezada Ana Cooper, temos o prazer de informar que você foi selecionada para uma entrevista presencial.”

Ela gritou sozinha no quarto, pulando de alegria. Era sua chance.

Nos dias seguintes, se preparou com afinco: estudou a empresa, revisou seu coreano e inglês, escolheu a roupa ideal. Queria mostrar tudo o que podia oferecer — e mais um pouco.

Quando o dia chegou, Ana entrou na sede da empresa KN com a alma inflamada de vontade. O prédio era imponente, moderno, e por um segundo ela se sentiu pequena. Mas respirou fundo. Ela não tinha chegado até ali por acaso.

Foi recebida por Sophia, gerente de recursos humanos, uma mulher elegante e acolhedora, que logo a conduziu até uma sala envidraçada.

Durante a entrevista, Ana respondeu com segurança. Falou sobre suas experiências, seus idiomas, sua adaptação em culturas diferentes, sua facilidade em lidar com pressão. Seus olhos brilhavam enquanto contava sobre seus projetos anteriores.

Ao sair da sala, sentia-se leve — como se tivesse deixado ali uma parte dela pronta para florescer.

✧✧✧

Alguns dias depois, a resposta chegou.

Ela havia sido contratada. Secretária na KN.

Ao ler a mensagem, lágrimas escorreram antes mesmo que ela percebesse. O sorriso que se formou era verdadeiro, cheio de alívio, orgulho e gratidão. Todo o esforço, cada noite mal dormida, tudo havia valido a pena.

Sophia a recebeu no primeiro dia com um abraço caloroso.

— Você fará parte de uma equipe exigente, Ana. Nosso CEO é… intenso. Valorizamos muito pontualidade, discrição e proatividade. Mas sei que você dará conta. Aliás, ele pediu para conhecê-la pessoalmente nos próximos dias. É raro ele fazer isso com os novos funcionários.

Ana assentiu, tentando não demonstrar o frio que subiu pela espinha.

Ela estava prestes a começar uma nova fase. E tinha plena consciência de que grandes desafios viriam. Mas nenhum tão inesperado quanto Lion Valentim.

Seu novo chefe.

Seu maior desafio.

E sua possível perdição.

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