As páginas do diário exalavam o cheiro de tempo e melancolia. As palavras ali não eram apenas lembranças — eram feridas abertas. E, à medida que Ana lia, sentia-se cada vez mais arrastada para um abismo de verdades que ninguém ousou contar.
Adam observava em silêncio, sentado à beira da cama. Ele sabia que cada parágrafo era uma lâmina. Mas também sabia que Ana precisava enfrentar aquilo. Sozinha. Como a filha de Helena e da mulher que ousou desafiá-la.
“Ano de 2009.
Hoje vi os olhos dela. A primeira. Tão perfeita que parecia feita à mão. Helena a chamou de ‘a obra-prima’. A criança não chora. Não reage. Obedece. Algo dentro de mim morreu quando a vi.”
Ana leu e releu aquela passagem. O coração acelerado. Sentiu um arrepio subir pela espinha.
— “A primeira”? — murmurou.
Adam se levantou e caminhou até ela, lendo sobre o ombro.
— Parece que houve outra antes de você.
— Isso não fazia parte de nenhum dos documentos. Nenhuma menção. — Ana virou mais páginas, quase rasgando o papel em sua