As nuvens carregadas romperam de vez ao anoitecer. A tempestade não pediu licença: rasgou o céu com relâmpagos que iluminavam, por breves segundos, as cicatrizes do mundo. A estrada, antes poeirenta, se tornou lamaçal, e cada passo dos cavalos era um esforço para não afundar na terra que parecia querer engoli-los.
Mas nada disso deteve Elira.
Aquela noite não a assustava mais. Porque, pela primeira vez, ela não fugia de quem era — corria ao encontro.
Acamparam num campo aberto, perto de uma antiga árvore caída. O tronco apodrecido serviu de abrigo precário contra a chuva. Adam, exausto, adormeceu logo após erguer proteções rúnicas ao redor do acampamento. Ana, sentada, embalava o próprio ventre, murmurando preces esquecidas.
Rurik montava guarda, a espada nua apoiada nos joelhos.
Mas era entre Elira e Liam que a tempestade mais verdadeira se formava.
— Você está inquieta — disse ele, o peito ainda marcado pela cicatriz da rosa, que brilhava sob a luz pálida dos relâmpagos.
— Porque si