Como ele poderia ser capaz de abandoná-la no hospital e passar a noite com sua amante?
Ângela se casou com Heitor Torres por amor, não apenas por um acordo entre as famílias Torres e Velar. Ela estendeu a mão e tocou a gola de sua camisa. — Como pode fazer isso? Eu acabei de perder o nosso filho... — ela gritou e segurou com força a camisa branca. As lágrimas desciam profusamente pelo seu rosto. Heitor segurou seus pulsos, tentando contê-la. As pessoas ao redor da recepção observavam a cena, e os sussurros aumentavam: — Veja, aquele homem não é Heitor Torres? — Sim, CEO das Indústrias Torres. Aquela é sua esposa. Ao que parece, acabou de perder mais um filho deles. — Será que eles vão se divorciar? Ângela continuou segurando a camisa de Heitor. O homem a arrastou para fora da recepção. Para a chuva. — Você ficou louca? — ele gritou e segurou seus pulsos, puxando-os para longe de sua camisa. — Louca? Você me abandonou aqui... — ela gritou de volta. Ângela sentia a chuva caindo fria e cortante ao redor deles. Ela olhou nos olhos cinza de Heitor, procurando alguma esperança neles. — Ângela, você está patética. — ele rugiu e se virou em direção ao carro estacionado na calçada. Seus olhos o fitaram se afastando dela, deixando-a parada na chuva. Devia entrar no carro com ele? Não. Quando Heitor entrou no carro, ele baixou o vidro e acenou para que ela entrasse, mas, quando deu um passo na direção dele, seu olhar recaiu novamente sobre a gola branca manchada de batom. Virou de costas. Segundos depois, ouviu o carro se afastando. Ele realmente não se importa comigo? Sentiu seu coração sendo apertado no peito. Seu celular, de repente, vibrou. Ângela retornou até a cobertura da porta do hospital e atendeu. As gotas de chuva do seu cabelo pingavam na tela que iluminava o nome "Ana Clara". Atendeu. — Ângela? Meu Deus, eu soube do que aconteceu... Heitor disse que buscaria você. — sua voz era cuidadosa, e Ângela sentiu vontade de chorar. Heitor... — Ele não vai me levar para casa. Nós brigamos. A mulher do outro lado permaneceu em silêncio, e Ângela sabia que não era nenhuma novidade para sua melhor amiga que ela e Heitor brigaram. — Eu vou buscar você. Qual hospital? — Homerio Sanches. Ângela desligou e olhou para onde o carro de Heitor estava. Ele havia passado a noite com sua amante após deixá-la sozinha no hospital. Quando foi que nós nos afastamos tanto ao ponto de ele ser tão frio comigo? pensou ela. Sentiu sua cabeça girar, ficando tonta de repente. O doutor José Roberto havia dito que ela havia perdido muito sangue e precisava ficar mais tempo internada, porém ela queria ir para casa. Queria conversar com Heitor, mesmo depois da discussão. Alguns minutos depois, um SUV preto encostou na calçada e Ângela sabia que era Ana Clara antes mesmo de ela sair do carro. — Ângela! — a ruiva a abraçou apertado. Ângela entrou no carro e, durante o caminho, contou tudo que aconteceu para a outra mulher. — Então ele passou a noite com outra mulher. Talvez ele esteja apaixonado — Ana Clara sugeriu sem tirar os olhos da estrada. Ângela sentia um buraco se abrindo em seu peito, suas mãos tremiam. — Apaixonado? Não... — ela negou. — Ângela, por que você não pede o divórcio? Heitor está traindo você, e com todos esses abortos... talvez não seja para ser. — Não! Ele não pediu o divórcio por todo esse tempo, eu não farei isso. — E se ele pedisse? O que faria? — Ana Clara perguntou. Ângela olhou para a amiga, seus olhos verdes atentos a cada palavra sua. Então, olhou para a cor do batom. Era de um tom de vinho escuro, idêntico ao que ela viu na camisa de Heitor. Antes que pudesse falar, o celular de Ana Clara vibrou e, rapidamente, ela o desligou. Ângela limpou as lágrimas. Sentiu uma sensação estranha. Desde que Ana Clara havia perdido os pais em um acidente de carro, ela estava morando com Ângela e o marido — isso fazia três anos. — Ele não vai pedir. Meu casamento ainda não acabou.— respondeu. Ângela chegou em casa e a primeira coisa que fez foi pegar o telefone de uma clínica de fertilidade. Discou o número. — Alô? Eu quero marcar uma consulta. Um ano depois Seus olhos estavam arregalados, seus dedos tremiam enquanto segurava o teste de gravidez. — Vai... por favor.— sussurrou, olhando para o teste. Quando o positivo brilhou, seu coração acelerou. Sentiu que o mundo estava de volta ao seu lugar. Seu longo tratamento na clínica Charles havia produzido resultado. Estava grávida novamente e, desta vez, tudo daria certo. Sentiu as lágrimas descendo do seu rosto e tocou o ventre. De repente, a porta do banheiro se abriu. — Ângela? — Ana Clara surgiu. Seu olhar verde felino recaiu sobre o teste de gravidez em suas mãos. Ela levou as mãos à boca, surpresa. — Você está grávida.— disse, e antes que Ângela pudesse dizer algo, Heitor surgiu atrás de Ana Clara. — Grávida? Seus olhos cinzas a fitavam. Ele nunca realmente acreditou que os procedimentos da clínica pudessem dar certo. Seus olhos ficaram marejados. Ângela se levantou. — Sim. Estou grávida.— tocou o ventre. — Vou deixar vocês sozinhos.— Ana Clara disse e saiu do quarto. . . . A mulher cerrou os punhos e foi até a cozinha. Pegou algumas laranjas e começou a preparar o suco. Quando finalmente terminou, pegou um pequeno frasco com algumas gotas. Olhou para ele. — Grávida? Apenas por enquanto.— disse para si mesma e despejou várias gotas sobre o suco.