O convite oficial da curadoria chegou com uma arte belíssima:
papéis em camadas, linhas de tinta imitando trajetos sobre um corpo abstrato e o título em negrito no centro:
CUERPOS EN TRÁNSITO — Exposición colectiva
“Sobre quem somos quando estamos entre lugares, entre pessoas, entre versões.”
A mostra aconteceria dali a uma semana, no Teatro dos Ventos, um antigo espaço restaurado no coração de Barcelona que abrigava arte em todas as suas formas — música, palavra, imagem, gesto.
Allegra foi convidada a expor duas obras inéditas.
Aquela da mulher mergulhando, com traços borrados de azul e dourado, foi escolhida sem hesitação.
A segunda, porém, ainda estava nascendo.
Era a que mais doía.
E, talvez por isso, a mais necessária.
Naquela manhã, sentada no quintal da Casa de la Llum, Allegra pintava em silêncio.
A nova tela tinha tons de pele, vermelho queimado e pinceladas que pareciam marcas deixadas por mãos.
Era uma mulher dançando sozinha.
Mas não havia ninguém ao redor.
Nem paredes.
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