Os primeiros dias na Casa de la Llum passaram como tinta escorrendo suave sobre tela crua.
Barcelona parecia se abrir mais a cada passo.
Allegra acordava cedo, fazia café forte, passava manteiga nos pães artesanais que vinham de uma padaria vizinha e seguia com Lucca até o El Taller.
A residência artística não era um lugar comum.
Era um organismo vivo.
Artistas de diversas partes do mundo compartilhavam não só o espaço — mas os silêncios, os processos, os fracassos e os brilhos súbitos da criação.
Na terça-feira, Allegra passou horas observando um pintor marroquino criando retratos com espátulas.
Na quarta, trocou experiências com uma escultora francesa que trabalhava apenas com materiais reciclados.
E na quinta…
algo nela começou a mudar.
Foi quando, ao tentar pintar uma mulher caminhando entre sombras e flores — uma imagem que havia sonhado —, suas mãos decidiram abandonar os contornos previsíveis.
— O que tá acontecendo comigo? — murmurou, com o pincel ainda em mãos.
A pintura toma