Nápoles tinha um jeito de me segurar, mesmo quando eu tentava escapar.As ruelas do bairro — tortas, estreitas, com seus prédios antigos e varandas penduradas de roupas coloridas — eram o único lugar onde eu conseguia me encontrar em silêncio. O cheiro do café fresco misturado ao mar distante, os passos dos vizinhos conversando em dialeto — tudo aquilo me lembrava quem eu era antes do “nós”.Eu adorava caminhar por ali, mesmo que a liberdade fosse só uma ilusão. Acordava cedo, tomava um café rápido na cozinha minúscula do apartamento e fazia o que ele chamava de “meu trabalho”: responder mensagens, planejar stories, editar fotos, cuidar do que as pessoas esperavam que eu fosse. Era estranho como o tempo se diluía nesses pequenos afazeres, como se cada curtida fosse uma moeda de sobrevivência. Mas, por dentro, eu sentia que estava afundando.O curso de artes visuais, que eu tinha abandonado no ano passado, era um segredo entre mim e o vento. Ou melhor, um segredo que ele transformou em
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