A noite estava silenciosa demais.
Lucia e Serena sentadas no chão, costas na parede, um cobertor dividindo o frio entre elas.
Nenhuma arma. Nenhuma mentira.
Apenas duas mulheres tentando se encontrar no meio dos cacos.
Serena respirou fundo.
— Eu nasci numa vila pequena, perto de Cosenza.
Minha mãe se chamava Mirella. Era enfermeira num convento. Nunca me disse quem era meu pai.
Lucia a escutava sem interromper.
— A gente vivia com pouco. Mas ela fazia parecer muito.
Eu estudava num colégio onde ninguém sabia pronunciar meu sobrenome… porque eu não tinha um.
— E o que você dizia quando perguntavam?
— Que era “ninguém”.
Porque era assim que eu me sentia.
Lucia engoliu seco.
Serena continuou:
— Quando eu tinha sete anos, minha mãe recebeu uma carta.
Ela chorou por horas depois de ler.
Naquela noite, ela me abraçou e disse: “Você nunca vai entender o quanto eu te escondi por amor.”
— A carta era de Elena?
— Não sei. Ela queimou.
Mas três dias depois, minha mãe me colocou num carro com um