O cheiro de biscoitos de chocolate ainda pairava no ar. Nós sentamos no chão da sala, encostados na estante reorganizada, as mãos sujas de migalhas e poeira. Leo pegou um último biscoito do prato entre nós, estalando-o com satisfação. A paz do momento era quase palpável, um véu frágil sobre o abismo que ambos sabíamos existir, mas ignorávamos por instinto de sobrevivência.
— Essa pilha aqui ainda está torta — ele comentou, apontando para uma coluna de livros que teimavam em pender para a direita. Sem pensar muito, ele esticou o braço e puxou um volume mais para a frente, tentando alinhá-lo. Ao puxá-lo, em vez de deslizar para fora, ele cedeu para dentro, acompanhado por um clique mecânico baixo e familiar apenas para mim.Leo congelou, os olhos vermelhos arregalados de puro susto. Olhou para mim, depois para a passagem que se abria, depois para mim de novo, como um gato que derrubou um vaso sem querer.Eu não pude evitar rir.— Surpresa