2 - Encontrem o golpista

Isadora respirou fundo, tentando controlar a raiva que latejava em suas têmporas. O vapor ainda escorria de seus cabelos quando ela largou a toalha e vestiu-se rapidamente com as roupas que havia chegado. O toque frio do tecido contra a pele úmida a fez estremecer, mas não tanto quanto o nó de fúria que crescia dentro dela.

Ela, Isadora Monteiro, uma CEO respeitada, uma mulher que enfrentava conselhos de administração compostos por homens mais velhos e arrogantes sem baixar os olhos, tinha acabado de ser enganada por um trapaceiro de bar.

O pensamento era insuportável e odioso.

Assim que saiu do quarto, marchou em direção ao elevador com passos furiosos, ignorando os olhares curiosos de outros hóspedes que cruzavam o corredor. A cada segundo, sentia o sangue ferver mais. Não apenas pela perda do celular e da bolsa, mas pela audácia dele em acreditar que poderia sumir sem consequências.

Quando chegou ao saguão, dirigiu-se diretamente para a saída. No entanto, uma funcionária do hotel, de uniforme e sorriso protocolar, interceptou-a com educação.

— Senhora, com licença… a diária da suíte ainda não foi paga.

Isadora parou, incrédula, e respirou fundo.

— Eu não vim para pagar nada, quem fez a reserva foi o homem que estava comigo.

A funcionária sorriu de forma incômoda.

— Sim, mas ele saiu há alguns minutos. Pegou um táxi na porta. Disse que a senhora resolveria a conta.

Isadora quase explodiu. Sentiu o impulso de gritar, mas conteve-se. Não permitiria que estranhos vissem sua vulnerabilidade. Sua imagem era importante demais.

— Eu vou até o meu carro pegar minha bolsa, e depois volto para resolver — disse, tentando passar pela mulher.

— Infelizmente não podemos permitir que a senhora saia sem que a conta esteja quitada. — a funcionária explicou, a voz calma, mas inflexível. — Posso pedir que um de nossos seguranças a acompanhe até o carro, se for possivel.

Isadora estreitou os olhos, mas manteve o tom gelado.

— Peça, então.

A mulher fez sinal e um segurança se aproximou. Isadora saiu seguida por ele, foi até o carro de sua equipe de seguramça e um homem terno preto que a aguardava, saiu para ver do que ela precisava.

— Pague o hotel, agora. — Ordenou. 

O segurança apenas assentiu, pegou o cartão corporativo e seguiu para a recepção. O outro, ficou de pé ao lado dela e arriscou uma pergunta.

— Senhora, houve algum problema?

A pergunta trouxe à tona toda a fúria que ela tentava manter sob controle.

— O homem que estava comigo sumiu — respondeu secamente. — E levou minhas coisas.

O segurança piscou, surpreso, mas não ousou reagir além disso. Fez sinal para o colega no banco de motorista e ele desceu vindo até eles.

Isadora ergueu o queixo, dominando a situação novamente depois de pensar com cuidado.

— Escutem bem. Eu quero esse homem na minha frente até amanhã. Não importa o que precisem fazer. Ele roubou de mim, e eu não vou aceitar ser feita de idiota.

Os dois trocaram olhares rápidos. Eles sabiam que se não cumprissem aquela ordem, eles quem pagariam o preço.

Poucos minutos depois, o outro segurança retornou com o recibo do pagamento do hotel.

— Resolvido, senhora.

Sem dizer mais nada, Isadora caminhou até o carro preto estacionado na frente, os saltos batendo com força no piso. Entrou, sentou-se no banco de trás e esperou os homens se acomodarem.

— Ele disse que se chamava Anthony — declarou, com nojo do nome. — Mas provavelmente é falso. Deem um jeito de achá-lo. Rastreiem câmeras, taxistas, qualquer coisa. Eu quero esse golpista encontrado.

— Pode deixar, senhora Monteiro.

O carro arrancou, deixando o hotel para trás. Do lado de fora, a cidade seguia viva, cheia de luzes e sons noturnos. Do lado de dentro, Isadora mantinha a expressão fria e por dentro queimava.

Em casa, trancou-se no quarto. Jogou os sapatos em um canto, sentou-se na beira da cama e apoiou a cabeça entre as mãos. O quarto luxuoso, o colchão macio, nada disso parecia suficiente para acalmar o furacão que se agitava dentro dela.

Deitou-se, finalmente, tentando encontrar o sono. Mas cada vez que fechava os olhos, via o sorriso cínico dele, a confiança com que havia se aproximado, os beijos que a fizeram baixar a guarda.  A raiva se misturava à vergonha. Pela primeira vez em toda a sua vida, ela se sentia… burra.

Dormiu mal. Sonhou com vozes zombeteiras, com conselheiros de sua empresa descobrindo que ela havia sido enganada por um aventureiro qualquer.

Quando amanheceu, levantou-se com olheiras e um humor ácido.

A rotina, no entanto, não podia parar. Tomou banho, vestiu um conjunto de alfaiataria confortável e elegante, prendeu o cabelo em um coque ainda mais firme que o da noite anterior e saiu em direção à empresa.

No escritório, cercada de telas, relatórios e reuniões, tentou se concentrar. Mas a cada linha que lia, a lembrança do golpe retornava. Não conseguia prestar atenção às planilhas, nem às vozes que pediam sua opinião. Sua mente estava em outro lugar.

Ela se sentia ridícula. Não apenas porque tinha perdido dinheiro e objetos, isso podia ser facilmente substituído, o que ela não aceitava era a forma como foi roubada. Teria preferido mil vezes perder essa coisas em um assalto, com um bandido armado, do quê por não saber ler as intenções do bandido. O que lhe dava mais ódio era que ela tinha notado os sinais e ignorou.

As horas passaram arrastadas. A manhã foi um tormento de distração e respostas curtas. À tarde, trancou-se na sala com a desculpa de revisar contratos importantes, mas na verdade só conseguia repassar mentalmente cada detalhe da noite anterior, enquanto relembrava de falhas que poderiam ter alertado seu instinto.

Até que o celular corporativo, o único que ainda tinha em mãos, tocou.

Ela atendeu de imediato.

— Monteiro.

Do outro lado, um de seus seguranças quem falou.

— Senhora, encontramos o golpista.

Isadora se recostou na cadeira, sentindo o coração aliviar. Quase abriu um sorriso, com aquela ligação.

— Onde?

— Está em um apartamento na zona central. Temos certeza de que é ele.

Isadora fechou os olhos por um instante. Quando os abriu, o brilho de determinação em seu olhar era inconfundível.

— Ótimo. Façam uma visita e o tragam para a minha casa. Quero esse homem diante de mim assim que chegar em casa.

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