Wei narrando:
A taça repousava pesada entre meus dedos, o líquido vermelho oscilando como se refletisse meu próprio desequilíbrio. O sangue me mantinha desperto, mas não silenciava os fantasmas.
Séculos dormindo. Séculos fugindo da dor. E agora, pela primeira vez desde que despertei, uma lembrança rasgou a muralha que construí: o rosto dela. Minha primeira companheira. Meu único amor.
Lembro-me de tê-la visto antes do ataque… ou pensei que fosse ela. Uma ilusão. Outra mulher que me atraiu para a emboscada. Depois disso, o sono forçado. Milênios perdidos. E ela…morta, e talvez reencarnou . Ou pior: esquecida do que fomos.
Fechei os olhos, mordendo o lábio, quando ouvi passos cambaleantes no corredor. E então, a porta se abriu com um rangido.
Ela entrou.
Lua.
De camisola. Fina, translúcida, desajeitada, tropeçando como se o chão fosse uma onda.
— O que você está fazendo aqui? — perguntei, minha voz mais áspera do que pretendia.
Ela ergueu a sobrancelha, rindo sozinha. — Eu que