As horas no casarão pareciam mais densas. A chuva caía fina sobre os vidros antigos da janela, como se o tempo lá fora compreendesse o caos dentro de mim. Estava sentada na poltrona da biblioteca, abraçada aos próprios joelhos, tentando ignorar a presença inquieta de Leonardo, que andava de um lado para o outro como um animal enjaulado.
— Você tem me evitado, Helena — ele disse, quebrando o silêncio como uma lâmina afiada.
— Eu só preciso de espaço — respondi, com voz baixa, tentando parecer neutra. — Tudo tem sido intenso demais ultimamente.
Ele se aproximou. O cheiro do seu perfume, amadeirado e forte, invadiu minhas narinas. Por um segundo, meu corpo reagiu ao toque dele quando segurou meu queixo com os dedos. Mas minha alma gritava por outra presença.
— Você era minha, lembra? — Leonardo sussurrou. — Você ainda é.
Aquelas palavras me causaram um enjoo profundo. O toque dele agora me parecia invasivo, estranho. Mas eu não disse nada. Não podia, não naquele momento.
Subi para o quar