O Encontro Silencioso

Isadora tentou desviar o olhar, sentindo algo familiar na cena, algo que ela não sabia como lidar. Mas seus olhos pareciam puxados de volta, como se estivessem conectados por algo invisível, algo que ela não podia ignorar. O homem virou o rosto, lentamente, como se tivesse ouvido um chamado que só ele poderia entender. E ali, naquele momento, os olhos dele encontraram os dela.

Não foi um gesto apressado, mas sim uma pausa. Como se o tempo tivesse se esticado por um instante, segurando tudo no ar. Ele não sorriu, não fez nada que a fizesse pensar que ele estava se aproximando para interromper o silêncio que havia entre eles. Mas havia algo nos olhos dele – algo profundo, algo que parecia entender o que ela sentia, sem palavras.

Isadora sentiu seu corpo se congelar. Não foi medo, nem ansiedade. Foi como se algo em seu interior finalmente tivesse sido despertado. Pela primeira vez em muito tempo, ela sentiu-se… vista. Não por simpatia, não por curiosidade, mas por uma presença tão intensa que quase doía. Era como se ele estivesse tocando sua alma com os olhos, sem nada dizer, mas dizendo tudo.

Cael, do outro lado da rua, sentiu a mesma coisa. Ele havia escolhido estar ali, naquela cidade, naquele momento, olhando para ela. Ele sabia que não devia. Sabia que os anjos não deviam se envolver nas dores dos humanos, mas algo nela o chamava. Algo nela o fazia acreditar que ainda havia algo belo no mundo. Ela, com todas as suas feridas, com todas as suas cicatrizes, era um farol apagado que ele precisava trazer de volta à luz.

Ele não podia explicar, mas algo nele sabia que ela estava em um ponto de virada. Talvez, assim como ele, ela estivesse buscando uma forma de curar-se, de se encontrar de novo.

Isadora, por sua vez, não compreendia o que estava acontecendo. Aquele olhar tinha algo de familiar, algo que ela não podia identificar. Mas havia algo de tão puro, de tão direto nele, que a fez questionar suas próprias emoções. Ela não sabia se queria mais aquele olhar ou se temia o que ele poderia significar. O que faria com essa sensação de ser reconhecida de forma tão profunda?

Ela baixou os olhos para a xícara de chá, tentando se convencer de que não deveria se perder naquele instante. Mas o sentimento de conexão, o simples fato de que alguém – alguém tão distante e desconhecido – a via de uma maneira que ninguém mais parecia ser capaz de fazer, mexeu com ela. De repente, o mundo ao seu redor parecia mais real, mais cheio de possibilidades.

Ela não podia ignorar a verdade. Havia algo nele que despertava algo em seu coração. E mesmo que ela quisesse fugir, aquele olhar estava gravado nela. Era como se Cael tivesse tocado algo dentro dela, algo profundo e escondido, algo que ela mesma não sabia mais que existia.

Cael observava, sentindo o peso do que estava fazendo. Sabia que não deveria, sabia que não poderia se aproximar. Mas a vontade de estar perto dela, de ser a presença que ela tanto desejava, o consumia. Ele não podia resistir. Mesmo sendo um anjo, ele também tinha suas próprias dúvidas, seus próprios desejos. Ele se perguntava se ela poderia, algum dia, perceber o que ele via nela: uma mulher forte, mas quebrada, com uma luz que ela mesma talvez não soubesse que ainda brilhava.

Era um risco, ele sabia. Mas, naquela manhã nublada, algo dentro dele dizia que ela estava pronta para ser vista. E, pela primeira vez em muito tempo, Cael desejou mais do que apenas observar. Ele queria ser a presença que poderia curá-la. Ou, talvez, ser a que a ajudaria a se encontrar de novo.

Continue lendo este livro gratuitamente
Digitalize o código para baixar o App
Explore e leia boas novelas gratuitamente
Acesso gratuito a um vasto número de boas novelas no aplicativo BueNovela. Baixe os livros que você gosta e leia em qualquer lugar e a qualquer hora.
Leia livros gratuitamente no aplicativo
Digitalize o código para ler no App