A dor rasgava por dentro.
Aurora correu pela floresta como se fugisse de algo — ou dela mesma. As visões voltavam em flashes: olhos negros, braços fortes, uma criança chamando seu nome, sangue, água, gritos.
Ela tropeçou. Caiu de joelhos. As mãos afundadas na terra.
A Lua brilhava intensa acima de sua cabeça, pulsando com uma luz diferente. A marca em seu ombro queimava, latejava como se estivesse viva.
Ela apertou o peito.
— Eu não consigo mais… — murmurou, com a voz embargada.
O vento soprou forte. As folhas se agitaram. E então ela ouviu:
“Desperte.”
A voz não vinha de fora. Vinha de dentro. Do sangue. Dos ossos. Da alma.
Aurora gritou.
E então… o mundo parou.
Seus olhos se tornaram duas brasas douradas.
O corpo se arqueou.
As veias pulsaram luz.
E, em meio à floresta silenciosa, Aurora se transformou.
Pela primeira vez em três anos, sua pele se rompeu. Ossos se quebraram e se moldaram. Pêlos surgiram, dentes cresceram, garras cortaram a terra. A loba estava viva.