Liah sempre soube que sua vida como ômega seria marcada pela dor, mas jamais imaginou ser reclamada pelo Alfa Cruel, Magnus. Temido por todos, ele governa com brutalidade e sombras, esmagando inimigos sem hesitar. Quando a marca dele queima em sua pele, Liah é arrastada para um mundo de guerras políticas, alianças sangrentas e desejos proibidos. Prisioneira no castelo sombrio, ela luta para sobreviver aos toques que queimam e ao olhar que a despedaça. Mas há algo mais profundo entre eles – um laço que nenhum dos dois entende ou aceita. Enquanto Magnus precisa se casar com a filha de outro Alfa para manter a paz dos clãs, um segredo cresce dentro de Liah, ameaçando derrubar reinos inteiros. Seu filho carrega a promessa de cura… ou destruição. Em um mundo onde o amor é guerra e o poder governa acima de tudo, Liah descobrirá que mesmo o lobo mais cruel guarda um coração capaz de ruir. Mas o preço por amar o Alfa Cruel pode ser sua alma.
Leer másPOV Liah
A lua cheia, tingida de vermelho, queimava no céu como sangue fresco derramado pelos deuses, lançando sombras sangrentas sobre a floresta silenciosa. Cada passo que eu dava pela trilha de barro frio rasgava meus pés descalços, mas eu não parava. Corria sem olhar para trás, sentindo o vento gelado cortar minha pele fina como lâminas. Meu vestido branco de linho, antes puro, agora estava sujo de lama, rasgado nos joelhos, grudado nas minhas pernas magras. Cada movimento ardia nos arranhões deixados pelos galhos, mas nada doía mais do que a humilhação. Eles riram de mim. Todos. As jovens ômegas estavam em fila, oferecidas aos Alfas visitantes para uniões estratégicas naquela noite sagrada. Mas quando chegou minha vez, risadas ecoaram como trovões no salão. — Filha de quem mesmo? — zombou uma loba beta com desprezo, olhando-me de cima abaixo. — Ah, de ninguém importante… só uma bastarda de serva sem marcação. Meu peito queimou, mas eu permaneci imóvel. O Alfa designado para mim, um guerreiro enorme com uma cicatriz profunda na face, me observou por um segundo antes de virar o rosto com nojo. — Fraca demais até para parir filhos fortes. — Cuspiu no chão, como se eu fosse sujeira. As palavras deles cortaram mais fundo que qualquer galho. Segurei as lágrimas, mas meu corpo inteiro tremia. Dei um passo para trás, virei-me e corri, sumindo no mato alto sem olhar para as tochas que ficavam para trás. Eles riram. Todos riram. “Olhem para ela, tão magra, tão pálida… como poderia satisfazer um Alfa?” “Ela parece um filhote doente.” Essas vozes ecoavam na minha mente enquanto corria pela trilha escura. Meu peito queimava com ódio…, mas também com medo. ‘Por que eu nasci assim? Fraca… inútil… tão suja…’ As tochas e a música tribal do ritual ficaram para trás, afogadas pelo som do meu choro silencioso. Eu não queria que ninguém ouvisse minha dor. Eu queria sumir, desaparecer na terra como folhas secas levadas pelo vento. O frio da madrugada cortava minhas pernas finas, mas continuei correndo até chegar à beira do grande rio que marcava o limite das terras Esmeralda. Ajoelhei-me, ofegante, olhando meu reflexo distorcido pela correnteza escura. Meus olhos inchados, minha boca trêmulos, o sangue seco no queixo onde havia caído antes. ‘Eu sou tão fraca… tão sozinha… tão suja…’ Foi então que ouvi Um rosnado baixo, tão profundo que fez minha espinha se curvar involuntariamente. Meus pelos se arrepiaram de medo. Entre as sombras, surgiu uma figura alta. Um homem de cabelos pretos curtos, peito largo e nu, vestindo apenas calças rasgadas. Seus olhos… brilhavam como brasas vivas na escuridão. ------------- POV Magnus O cheiro de medo. Era tão doce quanto o cheiro de cio de uma fêmea no auge do calor. Eu podia senti-lo a quilômetros de distância. Eu estava caçando um traidor que ousou invadir minhas terras…, mas aquele perfume suave de medo e pureza me distraiu. Entre as árvores escuras, a vi. Ajoelhada à beira do rio, cabelos grudados no rosto molhado de lágrimas, vestido branco rasgado e sujo, colado ao corpo magro. Uma pequena ômega… perdida… quebrada… Nojento. Fracos. Todos eles. Mas nela havia algo diferente. Algo puro demais para este lugar podre. Fiz questão de pisar num galho seco, anunciando minha chegada. Vi seus ombros tremerem antes mesmo que ela se virasse para mim. O medo dela era tão palpável que quase pude prová-lo no ar. — Fugindo, pequena? — minha voz saiu baixa, grave, carregada de ameaça e escárnio. Ela me olhou com aqueles olhos arregalados, negros e grandes como os de um cervo antes de ser abatido. Vi lágrimas presas em seus cílios longos. — E-eu… eu só… — sua voz falhou, fina e trêmula como a de um filhote prestes a ser morto. Meu lobo rosnou dentro de mim, faminto por sua submissão. Dei um passo, depois outro, até parar tão perto que senti o pulso dela vibrar sob a pele fina do pescoço. Abaixei-me, ficando olho a olho. Inspirei fundo seu cheiro. Pureza. Medo. Humilhação. “Tsc. Que desperdício de pureza nesse lugar podre.” Um sorriso torto se formou nos meus lábios. — O que uma ômega como você faz aqui? Fugindo da cerimônia? Espionando os escolhidos? Ela balançou a cabeça tão rápido que seus cabelos voaram, as lágrimas caindo grossas e pesadas no barro. — N-não… eu só… eu só queria olhar a lua sangrenta… por favor… — sussurrou, a voz falhando no final. “Que voz linda”, pensei, mesmo enquanto meu ódio crescia. “Idiota. Inútil. Mas… tão perfeita para ser quebrada.” Inclinei minha cabeça, roçando levemente meu nariz no dela. Vi seu corpo inteiro estremecer. — Então olhe bem, pequena… — deixei meu olhar arder com todo o poder que carregava. — Porque você acaba de assinar seu destino. Antes que ela pudesse reagir, passei meu braço por trás de seus joelhos e a ergui como se fosse uma pena. Tão leve. Tão pequena. Seu coração batia tão forte contra meu peito que quase pude sentir a vibração nos meus ossos. — Não ouse resistir. — Rosnou meu lobo através de mim. — A partir de agora… você me pertence. E caminhei pela floresta com a pequena presa tremendo em meus braços, enquanto a lua sangrenta iluminava o caminho para seu fim… ou para seu renascimento no inferno.POV Liah A dor rasgava meu ventre como lâminas quentes. Cada contração era um terremoto que partia meus ossos por dentro, me deixando cega de agonia. O cheiro de sangue se misturava ao cheiro frio da noite que entrava pelas frestas da janela. “Não… ainda é cedo…” Meu corpo tremia sem controle. Maeve segurava minhas mãos, sua voz rouca entoando cânticos antigos em línguas que eu não conhecia. Lágrimas rolavam pelo meu rosto, caindo na pedra fria sob mim. — Magnus… — gemi baixo, a voz falhando enquanto outra onda de dor me consumia. — Por favor… eu preciso dele… “Ele não virá.” Meu coração gritou essas palavras. Mas parte de mim ainda esperava que a porta se abrisse, que aqueles olhos vermelhos me encontrassem no meio da dor, que suas mãos calejadas segurassem as minhas. Mesmo que fosse para me xingar. Mesmo que fosse para me odiar. Eu só… precisava dele. ------------------------------- POV Magnus Os gritos ecoavam pelos corredores como uivos de um lobo ferido. Cada som
POV Magnus As tochas tremulavam contra as paredes negras do salão. Eu estava sentado em meu trono de pedra, o braço pesado apoiado no encosto, enquanto os líderes dos clãs aguardavam minha decisão. — Um casamento consolidaria a paz — disse o Alfa Harun, sua voz ecoando pelos corredores. — Minha filha é uma ômega treinada para liderança. Se unir a ela fortalecerá seu reinado, meu Rei de Sangue. Fechei os olhos, sentindo o gosto de ferrugem subir pela garganta. Casamento? Outra fêmea? Outra marca para carregar? Minha mente voltou para o quarto no alto da torre, onde Liah gritava em agonia, carregando meu filho… meu herdeiro. — Eu já tenho uma companheira — falei, cada palavra carregada de ameaça. Harun sorriu, um movimento frio que não chegava aos olhos. — Uma ômega bastarda não é rainha. Me diga, Magnus… quem você prefere ver no trono ao seu lado: uma escrava de cama ou uma princesa de linhagem pura? Um rosnado escapou do fundo do meu peito antes que eu pudesse conter. Rae
POV Liah As dores vinham como facas flamejantes abrindo meu ventre por dentro. Eu gritava, mas o som saía falhado, preso na garganta ressecada pelo medo. Cada contração me fazia querer morrer, apenas para fugir daquela sensação de que meu corpo estava sendo partido ao meio. O quarto estava frio, mas meu corpo queimava em febre. As tochas tremulavam na parede, projetando sombras demoníacas no teto de pedra. Podia ouvir vozes sussurradas, orações antigas, o som da água fervendo, ervas queimando em caldeirões sagrados. — Por favor… por favor, façam parar… — sussurrei, implorando às curandeiras que me cercavam. A velha Maeve pousou as mãos enrugadas sobre meu ventre nu, seus dedos frios como pedra. Seus olhos vazios se encheram de lágrimas silenciosas enquanto murmurava palavras que não compreendi. — O que há de errado com meu filho? — perguntei, a voz falhando em desespero. Maeve não respondeu. Apenas chamou outro curandeiro, um homem alto de túnica negra, rosto marcado por ta
POV Liah O vento frio entrou pelas frestas da janela, cortando minha pele como lâminas. Eu estava sentada ao lado da lareira quase apagada, abraçando meu ventre que parecia pesar mais a cada dia. O bebê se movia em espasmos curtos, como se lutasse por espaço dentro de mim. Era tão pequeno… tão indefeso… tão dele. Fechei os olhos, tentando ignorar a dor que subia das minhas costas para o baixo ventre. Algo não estava certo. Desde o amanhecer, cólicas fortes me faziam tremer e, por um instante, temi que fosse perder essa pequena vida antes mesmo de poder tocá-la. “Não… aguente firme, pequeno lobo…” pensei, passando a mão pela protuberância suave. “Mamãe precisa de você… você é tudo que tenho.” Ouvi passos pesados aproximando-se no corredor. Meus sentidos se aguçaram. Antes mesmo da porta se abrir, eu já sabia que era ele. Quando Magnus entrou, o ar pareceu congelar. Seus olhos vermelhos varreram meu corpo com algo entre desejo, posse e uma fúria silenciosa. Ele estava usando a
POV Liah O inverno chegou mais cedo à Fortaleza Sombria. A neve caía fina como cinzas de ossos queimados, espalhando um silêncio frio pelo mundo lá fora. Apoiei a mão sobre meu ventre, agora visivelmente arredondado. Dentro de mim, uma vida se mexia, chutando devagar, lembrando-me de sua existência. “Filhote…” pensei, sentindo lágrimas queimarem meus olhos. “…você é a única chama que resta neste lugar gelado.” Magnus passava horas em reuniões com seus generais desde que voltou da guerra ferido. Mas mesmo doente, seu cheiro permanecia em cada pedra deste castelo – forte, possessivo, queimando minhas entranhas toda vez que eu o respirava. Havia algo diferente nele agora. Seus silêncios estavam mais longos. Seus olhos… mais vazios. E eu também mudara. Antes, tremia sempre que seus passos ecoavam no corredor. Agora, o medo se misturava com outra coisa… algo como brasas crescendo em meu peito. Eu não era mais só uma ômega marcada. Eu era mãe. E este filhote me dava coragem. “
POV Liah O som dos tambores ecoava pelos muros de pedra fria. As servas corriam para alinhar tochas e limpar o pátio principal. Eu observava tudo de longe, o corpo tremendo sob as peles finas que usava como manta. Eles estavam voltando. Ele estava voltando. Minha mão repousou instintivamente sobre o ventre que agora não podia mais ser escondido por muito tempo. Cada dia, o pequeno crescia mais, pulsava mais forte, como um lembrete cruel de que eu nunca estaria livre. “Magnus…” Meu peito apertou, misturando medo, ódio e uma saudade que me enojava. Ouvi os portões se abrirem. O chão tremeu com o som de dezenas de cavalos entrando. Guerrreiros altos, cobertos de sangue seco, desceram de suas montarias em silêncio. Mas foi quando o vi que meu coração parou. Magnus estava montado em seu cavalo negro, mas seu corpo oscilava. Sua capa vermelha estava encharcada de sangue, e cortes profundos marcavam seu peito nu. — Magnus… — sussurrei sem perceber, lágrimas brotando. Quando ele des
Último capítulo