POV Liah
Quando abri os olhos, tudo era frio, escuro e úmido.
As correntes de ferro apertavam meus pulsos acima da cabeça, cortando minha pele fina.
Meus joelhos doíam contra o chão de pedra, e cada respiração trazia o gosto amargo de mofo e sangue seco.
“Por que… por que ele me trouxe aqui…?”
As lembranças voltaram como facas
A lua sangrenta queimando o céu.
Seus olhos vermelhos cravados em mim.
Seus dentes rasgando minha pele enquanto eu gritava.
“Você me pertence agora.”
Era isso.
Ele me marcou. Ele me sequestrou.
E agora me mantinha presa como uma cadela acorrentada.
Senti meu corpo tremer. A marca ardia, queimava como brasas vivas sob minha pele.
E mesmo odiando tudo isso, mesmo chorando silenciosa no escuro… meu corpo clamava por ele.
“Que tipo de monstro eu sou…?”
As correntes tilintaram quando tentei me mover, e o barulho ecoou pela masmorra vazia.
Então ouvi.
Passos.
Lentos. Pesados. Cada batida do calcanhar contra o chão de pedra era como um trovão no meu peito.
O cheiro chegou antes dele: fumaça, madeira queimada, sangue… e puro poder.
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POV Magnus
Ela estava ali, acorrentada, tremendo como um filhote fraco.
“A pequena ômega bastarda.”
“Tão pura, tão maldita… tão necessária.”
“ Tsc. O que vou fazer com você, pequena praga…?”
Olhei para o corpo frágil, sujo, os cabelos desgrenhados cobrindo parte do rosto molhado de lágrimas.
Mesmo assim, mesmo nesse estado miserável, ela exalava um cheiro doce que deixava meu lobo faminto.
“Mate-a”, sussurrou o ódio em minha mente. “Acabe com a vergonha.”
Mas eu não consegui.
Ao invés disso, caminhei até ela. Peguei seu queixo com força, sentindo seus ossos frágeis rangerem sob meus dedos.
— Sabe por que está aqui, ômega? — minha voz saiu baixa, carregada de desprezo.
Seus olhos marejaram mais, mas ela balançou a cabeça devagar, tentando não soluçar.
— Porque você me pertence agora. — Rosnei baixo, inclinando meu rosto até sentir sua respiração quente e trêmula contra meus lábios. — Eu marquei você. Ninguém toca no que é meu.
Vi seus ombros estremecerem. O medo escorria dela como perfume, misturado ao desejo que ela tentava esconder.
E aquilo me enlouquecia.
— Eu poderia ter matado você naquela clareira. — Apertei seu queixo mais forte até ela gemer de dor. — Mas preferi te manter viva. Quero que viva cada dia lembrando que sua vida não é mais sua.
Inspirei fundo, sentindo o cheiro da marca recém-aberta queimando em sua pele fina.
“Maldita… tão fraca, tão frágil… tão minha.”
— Magnus… por favor… — sua voz falhou, como se fosse se quebrar a qualquer momento.
O som do meu nome em sua boca me atingiu como uma flecha no peito.
Fechei os olhos, lutando contra meu lobo que rugia, exigindo que a tomasse ali mesmo.
— Shhh… — rosnei, quase em seu ouvido, sentindo seu corpo tremer. — Eu não vou te matar hoje.
Abri os olhos, queimando os dela com meu olhar.
— Hoje… você viverá apenas para saber que sua vida pertence a mim. Para sempre.
Soltei seu rosto, deixando-o cair contra a parede com um baque surdo.
Ela chorou baixo, sem forças para gritar.
Virei de costas antes que eu mesmo quebrasse minhas correntes internas e a destruísse ali.
“Maldita seja a lua sangrenta que me deu você…”
Saí, trancando a porta pesada de ferro atrás de mim.
E no escuro da masmorra, tudo que restou foi o som de suas lágrimas caindo no chão.
Enquanto meu corpo queimava de desejo e ódio por aquela pequena ômega.
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POV Liah
Acordei com o som das correntes tilintando quando meus braços cederam de exaustão.
O frio da masmorra impregnava meus ossos, e a marca no meu pescoço ardia como se ainda estivesse sendo rasgada.
Minha cabeça latejava.
Meu estômago doía de fome.
Mas nada doía mais do que a humilhação de estar ali, nua sob a capa fina que me jogaram, presa como um animal selvagem.
"Por que… por que ele está fazendo isso comigo…?"
Minhas lágrimas já estavam secas quando ouvi a porta ranger.
O som ecoou pelo corredor escuro até tremerem meus joelhos.
Era ele.
Magnus entrou com passos pesados, seguido por outro homem alto, de cabelos castanho-escuros e olhos âmbar. Usava roupas finas, mas a postura rígida mostrava que não era apenas um conselheiro qualquer.
— Aqui está ela. — disse Magnus com desdém, sem olhar diretamente para mim. — A pequena bastarda da noite sangrenta.
O outro homem me analisou de cima a baixo.
Senti meu corpo queimar de vergonha sob seu olhar frio.
— Então é verdade… — ele disse, a voz carregada de desprezo. — Ela tem o cheiro dele. Do Alfa Arkan.
Meu coração parou.
“Arkan…? O Alfa Supremo do meu clã…?”
Eu não conseguia entender. Minha mãe sempre disse que eu não tinha pai, que nasci de um encontro sem importância. Mas… se ele era Arkan, então… eu era filha de um Alfa.
As lágrimas voltaram a escorrer enquanto meu peito ardia em dor.
— Filha de um Alfa… e ainda assim tão fraca. — O homem riu baixo, balançando a cabeça em negação. — Uma vergonha.
Magnus rosnou baixo, aproximando-se até que seus joelhos encostassem nos meus ombros, enquanto eu continuava ajoelhada no chão frio.
— Seu pai matou minha família, ômega. — Sua voz saiu baixa, tão grave que senti o chão vibrar. — E agora… o destino trouxe você até mim.
Ele segurou meu queixo com força, erguendo meu rosto até que eu fosse obrigada a encarar aqueles olhos vermelhos como brasas vivas.
— Sabe o que isso significa, não sabe? — seus lábios curvaram em um sorriso cruel. — Significa que eu não preciso mais esperar pela vingança.
Seu pai perderá tudo… inclusive você.
Soluços quebraram minha garganta enquanto lágrimas quentes molhavam a mão dele.
— Magnus… por favor… — minha voz saiu fraca, quase inaudível. — Me mata logo… eu imploro…
Seus olhos arderam com fúria.
— Matar você? — ele riu baixo, mas era um som sem humor, apenas ódio. — Não, pequena.
Eu vou quebrar você.
Vou destruir cada parte da sua alma antes que a morte te leve.
Essa será a punição perfeita para Arkan.
Ele me empurrou para o chão com brutalidade, me fazendo gemer quando meu corpo bateu contra as pedras geladas.
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POV Magnus
Observei a pequena bastarda caída a meus pés, tremendo como uma folha ao vento.
O cheiro de medo dela era doce. Quase viciante.
“Tsc. Fraca como a mãe. Mas pelo menos serve para algo.”
— Deixe-a aqui. — disse ao conselheiro, que se afastou com um gesto respeitoso.
Quando ficamos sozinhos, me ajoelhei ao lado dela. Passei os dedos pelos cabelos desgrenhados, sentindo sua respiração falha bater contra minha mão quente.
“Mate-a”, rugia meu lobo. “É filha do assassino. Derrame seu sangue.”
Mas eu não podia.
Não… eu precisava dela viva.
Viva para ser usada. Viva para sofrer. Viva para lembrar Arkan que nem suas bastardas escapariam do meu ódio.
— Você me enoja, ômega. — Sussurrei contra seu ouvido, sentindo o corpo dela encolher ainda mais. — Mas eu preciso de você viva… por enquanto.
Minha mão deslizou por seu pescoço marcado. A marca que eu cravei. A prova de que ela era minha propriedade agora.
— Magnus… — sua voz falhou de medo e algo mais que eu não queria nomear. — Por favor…
Fechei os olhos, respirando fundo para não destruí-la ali mesmo.
— Shhh… — rosnei, roçando meus lábios em seu pescoço sensível. — Ainda não. Mas logo… muito em breve… você entenderá o que é realmente o inferno.
Me levantei, ignorando seus soluços baixos ecoando na masmorra enquanto eu saía.
O som era música para meus ouvidos.
Porque cada lágrima dela era mais um tijolo na vingança que eu tanto desejei.
“E nada… nem mesmo o destino ou a lua sangrenta… impediria que eu a destruísse por completo.