POV Liah
Acordei com um arrepio percorrendo minha espinha. O frio era insuportável, como se tivesse sido mergulhada em gelo. Meu corpo inteiro tremia. Quando tentei me mexer, o som seco de ferro me fez prender a respiração meus pulsos estavam erguidos, presos por correntes pesadas e frias que mordiam minha pele como dentes de fera. Meu coração disparou. O chão sob mim era pedra negra, gelada, úmida… e cheirava a sangue velho. A luz das tochas tremulava nas paredes de pedra, lançando sombras que pareciam se mover sozinhas. Cada chama parecia zombar da minha fraqueza. O som de tambores ecoava ao longe, vibrando como batidas de um coração sombrio. Cada batida parecia anunciar minha sentença. — Onde estou…? — minha voz saiu num sussurro que ninguém ouviria. Tentei puxar os braços. O barulho das correntes foi alto e agudo, como um aviso de que não havia escapatória. O som ecoou, e então veio o silêncio. Por um segundo, pensei estar sozinha. Mas então ouvi… Passos. Pesados. Rígidos. Precisos como os de um carrasco a caminho do patíbulo. Senti meu estômago revirar. A entrada do salão escureceu ainda mais com a sombra que se aproximava. E quando levantei os olhos… o ar fugiu dos meus pulmões. Era ele. Magnus. O Alfa Supremo. Ele atravessou o salão como um deus sombrio banhado em sombras e poder. Seu corpo era todo músculos e cicatrizes. Os olhos… não eram humanos. Eram duas brasas acesas, vivas, pulsantes, como se cada olhar dele pudesse incendiar a alma de quem o encarasse. E ele me olhava. Como se eu fosse lixo. Como se eu fosse uma oferenda esquecida. Meu coração batia tão alto que abafava os tambores. — Levante-se. — A ordem saiu como um trovão abafado. Grave. Cruel. Quase inumana. Minhas pernas falharam. Senti a urina ameaçar escapar. Mas lutei. Tremendo, arrastei meu corpo para ficar de joelhos. Os grilhões rangiam, cortando meus pulsos. O ferro queimava, deixando marcas vermelhas fundas. A vergonha era ainda pior — eu estava suja, com os joelhos ralados, o vestido rasgado colado ao corpo magro e trêmulo. Como uma prisioneira antes da execução. Como uma fêmea que já foi descartada… e agora seria esmagada. “Fraca demais para parir filhos fortes.” As palavras do Alfa que me rejeitou voltaram como navalhas na minha mente. Mas agora, era outro Alfa diante de mim. Um pior. Um mais cruel. Um que fazia os outros se ajoelharem sem precisar erguer a voz. Magnus parou diante de mim. Seus passos eram firmes, cada um com o peso de quem decide destinos. Quando se abaixou, seus olhos se fixaram nos meus, e por um segundo eu desejei desmaiar só para não ter que aguentar aquele olhar. — Está tremendo… — murmurou. Sua voz soou como o rosnado de uma fera. — Tão fraca. Tão inútil. Fechei os olhos. Mas era tarde. O cheiro dele me cercava. Ferro, fumaça, floresta e… sangue. Sua respiração quente bateu contra meu rosto gelado, e a mistura me fez engasgar de medo. — E mesmo assim… — ele aproximou o rosto do meu pescoço, inspirando como se estivesse farejando um animal. — Seu cheiro faz meu lobo querer matar qualquer um que se aproxime. Eu não entendi. Não queria entender. — P-por favor… me deixe ir… eu imploro… — murmurei, com a voz falhando. O gosto de sangue e sal subia pela garganta. Meus olhos ardiam, mas eu lutava contra as lágrimas. Ele apenas sorriu. Um sorriso sem luz. Sem alma. — Tarde demais, pequena. — disse, e tocou com o polegar a marca ardente que surgia na lateral do meu pescoço. — Você é minha. E ninguém jamais vai querer algo que já pertence ao monstro. E naquele momento, com ele se erguendo sobre mim como um predador absoluto, eu entendi a verdade: A menina que fui morreu naquela floresta. E o que nasceria agora… viveria no inferno.