A Dor de Quem Fica
Voltei da clareira antes do amanhecer.
Mas jĂĄ nĂŁo era a mesma.
O corpo ainda era meu.
Mas a peleâŠ
pertencia a algo maior.
Karnan tinha tocado mais do que minha boca, minha pele ou minha alma.
Ele havia deixado uma marca invisĂvel no centro do meu instinto.
E ela ardia.
Quando entrei na mansĂŁo, Marco estava na porta.
De braços cruzados.
Olhos cerrados.
A mandĂbula trincada.
â Onde esteve?
A pergunta veio sem veneno.
Mas com uma dor que queimava mais do que qualquer grito.
â Com ele â respondi.
Sem mentiras.
Eu devia isso a nĂłs dois.
Marco se afastou, como se as palavras fossem punhais.
â Ele te tocou?
Assenti, engolindo o gosto metĂĄlico da confissĂŁo.
â Ele me mostrou quem sou.
â E quem Ă© vocĂȘ agora, Alice?
Uma fĂȘmea marcada por um maldito espĂrito ancestral?
Me aproximei, lenta.
O medo em seus olhos era mais profundo que o ciĂșme.
â Eu sou a mesma que amou vocĂȘ.
A mesma que foi rejeitada.
Que chorou noites por um nome que me cuspia como se eu fosse poeira.
Ele engoliu