A madrugada se estendia como uma linha torta no horizonte de São Paulo. O prédio estava em silêncio, mas o escritório ainda tinha as luzes acesas. Apolo não conseguia ir embora.
Os papéis continuavam espalhados sobre a mesa, as palavras do manuscrito abertas como feridas que não cicatrizavam. Ele passava os olhos pelas frases, mas não lia — apenas revivia cada uma. As cenas pareciam pulsar com a voz dela. Cada linha era um fragmento do que ele destruiu.
O celular vibrou.
Um som comum, banal. Mas o corpo dele travou antes de olhar.
Demorou alguns segundos até ter coragem de pegar o aparelho. O nome na tela era o que ele esperava e temia: Luiza.
Ele abriu a mensagem.
Poucas linhas. Frias. Diretas.
Não havia acusações.
Não havia raiva.
Era só uma decisão — seca, firme, cortante.
Ela desistia do contrato.
Nada mais.
Mas as entrelinhas gritavam.
Apolo sentiu o ar faltar. Sentiu a garganta fechar, como se o corpo inteiro tivesse rejeitado aquelas palavras.
Encostou-se na cadeira, os dedos t