NARRAÇÃO DE LARA GASPAR...
Os últimos dias foram como uma prisão — uma cela invisível onde eu e Andrea estávamos trancados, algemados por angústias que nem as brincadeiras ou o bom humor conseguiam aliviar. Só havia silêncio, ansiedade... e as horas. As malditas horas. Cada minuto parecia pesar toneladas.
Nunca soube o que era ter pai e mãe. Mas aprendi rápido. Ambos me mostraram amor, lealdade e o desejo inabalável de lutar por mim. Algo que sempre me faltou — e que agora precisava ser alimentado.
Dentro daquele quarto de hotel, fiquei na companhia silenciosa de Andrea. Ele também não dizia nada. Apenas se maquiava diante do espelho, como se sua arte fosse um escudo. O delineador corria firme sob seus olhos; cada traço, um grito silencioso. Seu rosto se transformava: um homem maquiado com a delicadeza de uma mulher. Havia beleza ali. Havia dor.
Observei pelo reflexo quando seus olhos se encheram de lágrimas. E, em segundos, uma gota escura escorreu por sua face impecável, rasgando a