NARRAÇÃO DE MIGUEL BAZZO...
Fechei a porta atrás de mim, sentindo o silêncio se adensar ao redor como uma névoa espessa.
Emma estava sentada no canto, os pulsos amarrados, os tornozelos marcados pelas tentativas frustradas de fuga. O ar cheirava a ferro, suor e medo. Mas o que me atingia com mais força era o olhar. Ainda havia fogo ali — um último fiapo miserável de soberba. Tão típico dela.
Aproximei-me devagar, saboreando cada passo, como um predador que já não tem pressa.
— Sozinha, enfim. Sem plateia. — arrastei uma cadeira para o centro do cômodo e me sentei diante dela. — Agora podemos conversar… com calma.
Ela não respondeu. Apenas me encarava — olhos fundos, exaustos, mas ainda perigosos. Como um animal ferido que não aprendeu a morrer.
— Sabe o que é curioso, Emma? — falei baixo, quase confidencial. — Eu deveria estar com raiva. Gritar, cuspir na sua cara, quebrar cada osso do seu corpo. Mas não. Estou... calmo. Em paz, até.
Inclinei o tronco, apoiando os cotovelos nos joelho