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CAPÍTULO 5 - SINAIS DE CUMPLICIDADE

Trabalharam juntos pelo resto da manhã.

Rafael se curvava, abrindo sulcos com a enxada, enquanto Isabella caminhava ao lado, recolhendo frutas e organizando os cestos. O som dos galhos rangendo, dos pássaros no alto e das sementes caindo no solo criava um ritmo quase musical.

— Você leva jeito, sabia? — disse Isabella, apoiando-se na enxada dele por um instante — A maioria já teria desistido com esse calor.

Rafael ergueu os olhos para ela, limpando o suor da testa com a manga da camisa.

— Eu aprendo rápido. E tenho uma boa professora.

Isabella fingiu não se importar, mas a cor em seu rosto denunciou o contrário.

Na hora do descanso, escolheram a sombra generosa de uma macieira. Isabella se sentou primeiro, ajeitando a saia no chão, e mordeu uma maçã crocante. O estalo ecoou pelo silêncio do campo. Ela então pegou outra fruta e estendeu a Rafael.

— Aqui. Mas não vale fazer careta se estiver azeda.

Ele aceitou, limpando a maçã na camisa antes de dar uma  mordida generosa. O doce explodiu em sua boca, e ele fechou os olhos por um instante.

— Se todas as recompensas do trabalho forem assim, eu vou querer plantar macieiras pela vida inteira.

Isabella riu, balançando a cabeça.

— Cuidado. A fazenda prende mais fácil do que você imagina.

Ele a observou com seriedade inesperada.

— E você gosta de estar presa aqui?

Ela ficou em silêncio por alguns segundos, antes de responder.

— Não penso como prisão. O campo me ensinou quem eu sou. A terra é dura, mas também devolve tudo o que a gente oferece. Eu não me imagino em outro lugar.

Rafael ficou calado, refletindo. Para ele, a fazenda ainda era um território estranho, mas havia algo naquela simplicidade que começava a lhe despertar uma nova visão.

De repente, quando se levantou para pegar outro cesto, Rafael tropeçou em uma raiz grossa e quase foi ao chão. Isabella soltou uma gargalhada tão espontânea que o deixou sem graça.

— Eu avisei que as maçãs têm vontade própria! — provocou.

Ele passou a mão pela nuca, fingindo indignação.

— Ótimo, virei piada. Vai rir de mim até quando?

— Até quando você aprender a andar reto. — respondeu ela, com um brilho malicioso nos olhos.

A risada dele se juntou à dela, e por um momento, o peso do trabalho desapareceu.

 Voltaram a colher juntos, enchendo cestos com maçãs vermelhas e douradas. O sol começou a descer devagar, pintando o céu em tons de laranja. O calor da tarde deu lugar a uma brisa mais fresca, e o barulho distante das vacas indicava que o dia estava chegando ao fim. Carregando os cestos pelo caminho de volta, Rafael quebrou o silêncio.

— Isabella... — chamou, sem olhar diretamente para ela — Obrigado. Não só por hoje, mas por... me mostrar que talvez eu consiga ser melhor do que eu mesmo acreditava.

Ela parou por um instante, surpresa com a sinceridade dele. O vermelho da vergonha tomou-lhe o rosto, e ela desviou o olhar para o chão batido.

— Eu só gosto de ajudar quem tenta de verdade. — respondeu, quase num sussurro.

Rafael ficou em silêncio, absorvendo aquelas palavras.

Caminharam lado a lado até a varanda da casa, onde o avô já os esperava. Mas a sensação que ficou entre eles não foi de cansaço, e sim de algo novo, invisível, crescendo devagar — como as sementes que haviam plantado naquela manhã.

A manhã nasceu silenciosa, apenas com o mugido distante das vacas e o canto repetido de um bem-te-vi que pousava sempre na mesma cerca. O cheiro de café fresco ainda vinha da cozinha, mas Isabella já estava na horta, agachada entre as fileiras de feijão, arrancando as ervas daninhas que teimavam em crescer. Suas mãos ágeis se moviam com precisão, e o suor que deslizava pela testa não parecia incomodá-la.

Rafael apareceu logo depois, esfregando os olhos e espreguiçando-se. Carregava ainda nos ombros a fadiga da colheita do dia anterior, mas tentava disfarçar com um sorriso preguiçoso.

— Você acorda antes do sol nascer, não é? — perguntou, aproximando-se.

Isabella ergueu os olhos rapidamente, mas não parou de trabalhar.

— Aqui, quem dorme demais perde o ritmo da terra.

Ele riu, ajeitando-se para sentar no toco de madeira ao lado.

— O ritmo da terra... bonito isso. Mas, na cidade, a gente se adapta. Tem dias que a gente dorme até tarde, outros que atravessa a noite acordado.

Ela parou de arrancar as ervas e o encarou, com a expressão séria.

— Pois aqui não é cidade, Rafael. Aqui tudo depende da gente levantar cedo e não deixar nada para amanhã.

O silêncio que seguiu foi desconfortável. Rafael se levantou do toco, passando a mão pelos cabelos.

— Tá, entendi. Não precisa me dar sermão. Eu só achei curioso.

— Não é sermão. — retrucou Isabella, agora com a voz mais firme — É a realidade.

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