A manhã começou mais fria que de costume. O orvalho cobria o campo como uma fina camada de vidro, e o cheiro do café recém-passado se misturava ao das flores do jardim. Isabella descia as escadas devagar, com a sensação de que o ar estava diferente — mais pesado, mais distante.
Desde o ocorrido na noite anterior — o desentendimento com Rafael, as palavras atravessadas, o orgulho ferido — o clima na fazenda parecia outro. O som do violão, que antes enchia os fins de tarde com melodia e risadas, havia desaparecido. O celeiro, que tantas vezes servira de abrigo para conversas e cumplicidades silenciosas, agora era apenas madeira e poeira.
Seu Anselmo, sentado na varanda, observava o nascer do sol com a xícara de café nas mãos trêmulas. Quando Isabella se aproximou, ele nem precisou perguntar.
— O silêncio de vocês dois tá mais alto que o canto do galo. — disse, sem tirar os olhos do horizonte.
Isabella forçou um sorriso.
— Ele anda ocupado, vô. Deve estar ajudando com o curral.
— Ocupado