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📍Capítulo 7 – O Primeiro Toque

A porta fechou atrĂĄs de mim com um estalo seco.

Mas o silĂȘncio que veio depois foi ainda mais ensurdecedor.

Dante nĂŁo trancou.

Nem precisou.

O verdadeiro cativeiro nĂŁo tinha chave.

Era o olhar dele.

âž»

O quarto parecia um templo.

Escuro, impecĂĄvel, silencioso.

Cortinas pesadas cobriam as janelas, abafando até a cidade lå fora.

Tapete felpudo sob meus pés nus.

O cheiro era de couro caro, incenso leve
 e perigo.

Na mesa lateral, um envelope preto repousava com o mesmo peso que um revĂłlver carregado.

Dante se virou.

Devagar.

Preciso.

Camisa preta.

Linho fino.

Dois botÔes abertos revelando a pele firme e bronzeada do peito.

RelĂłgio de couro escuro no pulso esquerdo.

Pés descalços.

O corpo inteiro em modo de guerra silenciosa.

âž»

Ele me encarou.

NĂŁo como um homem olha uma mulher.

Como um caçador avalia a presa que escolheu.

Com paciĂȘncia.

Com fome.

Com certeza.

Sem sorrir.

Sem piscar.

Eu nĂŁo me mexi.

E pela primeira vez na vida


nĂŁo sabia se queria ser desejada.

Ou devorada.

âž»

— VocĂȘ veio. — ele disse, a voz grave com sotaque estrangeiro que quase arranhava a pele.

— VocĂȘ mandou. — rebati.

Ele caminhou até a mesa, pegou o envelope e me estendeu.

— Antes de tudo
 o pagamento.

Peguei o envelope.

Abri.

Dinheiro em espécie.

Notas de 500 euros, dezenas delas.

Pesado.

Indecente.

Delicioso.

— VocĂȘ sempre paga antes? — perguntei, erguendo uma sobrancelha.

— Não. — ele respondeu, com os olhos fixos nos meus.

— Mas eu nunca deixo espaço pra dĂșvidas.

Se vocĂȘ ficar
 sabe o valor.

Se sair
 não vai poder dizer que perdeu tempo.

âž»

Fechei o envelope.

Larguei na mesa ao lado.

A provocação estava clara: eu não vim por dinheiro.

E agora, ele sabia disso.

Dante se aproximou.

Um passo.

Dois.

TrĂȘs.

Parou a menos de trinta centĂ­metros de mim.

O calor do corpo dele fez meu ventre contrair.

Eu juro: ele nĂŁo me tocou.

Mas eu senti.

—

— VocĂȘ estĂĄ com medo? — ele perguntou, baixo.

— Não. — menti.

— Bom. Porque o que vai acontecer aqui


nĂŁo vai ser sobre medo.

Vai ser sobre verdade.

A mĂŁo dele se levantou.

Lenta.

Controlada.

E encostou de leve no meu queixo.

Dois dedos apenas.

Levantou meu rosto com o mesmo cuidado que se ergue um cĂĄlice de cristal.

E me olhou.

Por dentro.

âž»

— VocĂȘ Ă© linda, Valentina. — ele disse.

— Eu sei.

— Mas beleza sem verdade
 Ă© sĂł enfeite caro.

—

Ele soltou meu queixo.

Deu um passo pra trĂĄs.

Se sentou na poltrona.

Perna cruzada.

Postura impecĂĄvel.

E disse:

— Agora
 ajoelhe-se.

O sangue gelou.

Depois ferveu.

—

— VocĂȘ me paga pra te obedecer? — perguntei, com sarcasmo.

— Não.

Eu pago pra vocĂȘ se lembrar de quem manda.

—

Ajoelhei.

NĂŁo por submissĂŁo.

Mas porque o poder
 Ă© uma moeda que se j**a em duas mĂŁos.

Sentei sobre os calcanhares, com a cabeça erguida, sem vacilar.

A camisola de seda grudou no corpo com o calor da tensĂŁo.

A fenda lateral aberta deixava uma coxa quase inteira Ă  mostra.

Ele olhou. Mas nĂŁo com tesĂŁo vulgar.

Com cĂĄlculo.

Como quem já sabia o que cada milímetro de mim podia oferecer — e exigir.

—

— VocĂȘ se vende como um segredo caro. — ele disse.

— Mas por trás dessa pose
 tem uma mulher com medo de ser tocada sem ser paga.

— E vocĂȘ acha que Ă© diferente?

— Não.

Eu sou pior.

Porque eu quero comprar a verdade.

E vou arrancĂĄ-la de vocĂȘ
 mesmo que custe tudo.

âž»

Foi aĂ­ que ele estendeu a mĂŁo.

NĂŁo para tocar minha pele.

Mas pra segurar meu pulso.

Com firmeza.

Sem força.

E disse, quase num sussurro:

— O que me excita em vocĂȘ


nĂŁo Ă© o corpo.

É o fato de vocĂȘ tentar fingir que ele ainda Ă© seu.

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