đCapĂtulo 2 â Os Homens Que Me Contratam NĂŁo Procuram Sexo. Procuram Esquecimento
NĂŁo nasci pra atender qualquer homem.
E muito menos pra estar em um Ășnico lugar.
Enquanto muitas vendem o corpo por sobrevivĂȘncia,
eu vendo o meu pra escapar.
Cada noite paga Ă© um voo sĂł de ida para fora da minha prĂłpria realidade.
Sou chamada de acompanhante.
Mas o que faço vai além do que qualquer dicionårio ousa explicar.
NĂŁo sou apenas um corpo disponĂvel â sou uma atmosfera.
Sou o veneno que eles imploram pra provar.
Sou a Ășltima mentira que ainda os faz sentir alguma coisa.
Os homens que me contratamâŠ
nĂŁo estĂŁo procurando orgasmo.
Eles estĂŁo implorando por esquecimento.
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JĂĄ fui paga em euros sujos por um banqueiro suĂço casado com a prima.
Recebi barras de ouro de um mafioso russo que me tratava como obra de arte.
Aceitei Bitcoin antes da explosĂŁo â e hoje tenho mais dinheiro do que culpa.
Jå bebi champanhe no iate de um traficante disfarçado de colecionador de arte em Cannes.
Ele dizia que meu corpo valia mais do que qualquer escultura no convés.
Eu apenas sorri â sabendo que, naquele momento, eu era mesmo uma obra: viva, cara e inalcançåvel.
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Em MĂŽnaco, entrei com um vestido dourado que deixava minhas costas nuas.
O evento era fechado.
O tema era âdeuses e pecadosâ.
Todos tinham codinomes.
Naquela noite, eu era Afrodite.
E fui adorada como tal.
Em Dubai, desfilei no tapete de mĂĄrmore do Burj Al Arab com salto vermelho e um olhar que dizia:
âSou cara demais pra te amar⊠e perfeita demais pra vocĂȘ resistir.â
Naquela noite, o sheik nĂŁo quis transar.
Pediu que eu lesse Neruda enquanto ele me olhava como se estivesse vendo o pĂŽr do sol pela Ășltima vez.
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Na França, jantei no topo da Torre Eiffel com um bilionårio da moda.
Ele me perguntou:
âQuanto pra vocĂȘ desaparecer comigo por um mĂȘs?â
Eu disse:
âTudo que vocĂȘ tem.â
Ele riu.
Mas eu estava falando sério.
Em Viena, fiz amor ao som de violino ao vivo em um salĂŁo privado.
As cortinas vermelhas, o piano ao fundo, o terno dele jogado no chĂŁo â
tudo parecia cena de filme.
Até que ele chorou.
E me disse que era a primeira vez que sentia prazer sem sentir nojo de si mesmo.
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JĂĄ me pagaram mais por um jantar sem toqueâŠ
do que por uma noite com final feliz.
JĂĄ fui chamada de musa, salvação, maldição, terapia sexual, fantasma vivoâŠ
Mas nunca fui chamada pelo meu nome verdadeiro.
Helena.
Eles sĂł conhecem a Valentina.
Valentina Ă© internacional.
Valentina tem um flat escondido em Nova York, uma suĂte exclusiva em Bangkok, um ârefĂșgioâ secreto em Santorini.
Valentina nĂŁo liga pra fuso horĂĄrio, moralidade ou clima.
Valentina Ă© um desejo de primeira classe,
com alma de classe média que aprendeu a nunca mais depender de ninguém.
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Eu escolho meus clientes.
Não aceito recomendaçÔes.
Faço minha triagem como um sniper faz antes de puxar o gatilho.
Analiso histĂłrico, casamentos, processos, entrevistas pĂșblicas.
Tenho um hacker que investiga o que nem o G****e acha.
Se Ă© violento?
Bloqueado.
Se Ă© arrogante?
Cobro o triplo.
E deixo ele de quatro â metaforicamente ou nĂŁo.
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Em TĂłquio, fui contratada por um engenheiro que nĂŁo tocou em mim.
Disse que sĂł queria conversar.
Me pagou vinte mil dĂłlares por quatro horas.
SaĂ de lĂĄ com os olhos molhados.
Ele me fez lembrar do meu pai.
O que não me tocava⊠mas também não me protegia.
âž»
Esses homens todos tĂȘm algo em comum:
O mundo os obedece.
Mas eu os domino.
E faço isso com a cruzar de pernas, um olhar fixo e uma mentira bem contada:
âVocĂȘ Ă© diferente.â
Eles acreditam.
E pagam por isso.
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Mas entre todos os hotĂ©is, lençóis, moedas, perfumes e promessasâŠ
sĂł um homem me desarmou.
SĂł um me fez esquecer quem eu era.
Ou lembrar.
Ele nĂŁo quis meu corpo.
Quis minha verdade.
E por issoâŠ
ele foi o mais perigoso de todos.